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A decisão está tomada e dela não arredo um centímetro: se tiver de nascer outra vez, não quero mais fazê-lo a noite, nem sobretudo no final da noite. Verdade chata: dos sessenta e cinco aniversários de nascimento tidos, não consegui, no momento exato em que nasci, me encontrar acordado. Tudo pela inconveniência do horário: nasci às 23,25 hs. De modo que só tenho trinta e cinco minutos para comemorar a data no mesmo dia. Fora daí, se for me arriscar a promover uma festa, terei de entrar no dia seguinte, o que já tira a originalidade da comemoração. Assim penso e assim estou a expor.

Alba não sabe a hora do seu nascimento. Nem haverá como saber. As pessoas, que podiam prestar a informação, não mais existem. Vinte e cinco anos afasta papai da vida. Mamãe, permanentemente acamada, sem consciência de mais nada, a mente deteriorada sem lhe oferecer um retrato da diferença entre o dia e a noite. A quem recorrer, então? Só se estiver na certidão de nascimento, se o cuidado do escrivão da época tiver sido cercado pelo detalhe de elementos a fim de o registro oferecer o cenário completo. O lamentável é que tenha pensado na matéria só agora, ao completar setenta anos. Tempo muito do nascimento para aqui.

O horário do nascimento pode ser um detalhe besta. O importante é a data em si, há o leitor de refutar. De minha parte, permaneço fiel a importância do horário, porque só ele nos pode guiar ao momento exato em que o seu aniversário, efetivamente, ocorre, permitindo, assim, uma comemoração regulada pelo tempo, para ser mais fiel, na contagem matemática dos anos tomando o horário de nascimento como base.

De minha parte, quando tiver de nascer outra vez só quero fazer no começo da tarde, entre às 12,30 e 13,30 hs, para comemorar sempre com um almoço, a ser iniciado, exatamente, no horário do nascimento, anunciado pelo badalar dos sinos. Assim serei fiel nas palavras: precisamente há tantos anos atrás, neste exatíssimo momento, nascia eu, direi, em tom discursivo. Quem estiver ao meu lado, nas comemorações, há de ressaltar que leu este artigo. E dirá que eu bem que afirmei. Palavra cumprida

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Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras.
Obs: Publicado no Diario de Pernambuco

 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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