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Na Amazônia manda quem tem capital. As autoridades locais e estaduais se encantam com a chegada de empresas, sejam nacionais, ou estrangeiras, na ilusão que trarão empregos e renda para a região. Santarém, no Estado do Pará é uma cidade estratégica para o capitalismo extrativista, tanto do centro Oeste brasileiro como para a empresas exportadoras estrangeiras. Situada no encontro de dois rios aptos a receber navios de até 70 mil toneladas. Assim a cidade tem o porto mais próximo dos mercados importadores de grãos, minérios e madeira da Amazônia e do centro oeste brasileiro.
A cidade em si não tem indústrias, exceto olarias e serrarias que não industrializam a madeira, apenas transformam as toras em pranchas que lá no estrangeiro são transformadas em móveis e outras matérias beneficiadas. Mesmo assim a cidade cresce, explode em novos bairros sem urbanização. Hoje sua população chega a cerca de 300 mil habitantes residentes, mas diariamente dezenas de barcos e ônibus trazem cerca de 20 mil visitantes que chegam a negócio ou em busca de assistência médica.
Outra razão para presença de tantas pessoas na cidade é que aqui estão a maioria das agências bancárias, duas universidades públicas, três centros acadêmicos privados, um hospital de média complexidade e ligação rodoviária com o Centro Oeste e sul do país.
Tal contexto em si positivo, leva também a graves agressões aos moradores e à natureza da cidade e de seu entorno. Três fontes ao menos causam violações dos direitos da cidade: o comércio de drogas, cada vez mais intenso; a invasão de carretas transportando grãos para a exportação via porto da multinacional Cargill. Cada carreta carrega 38 toneladas de grãos e são cerca de 150 delas diariamente trafegando pelas ruas estreitas da área urbana.
Além da Cargill, outras empresas estão tendo apoio das autoridades locais para instalar mais três grandes portos graneleiros dentro da área urbana da cidade prometendo tráfego de mais cerca de 350 carretas ovas entrando diariamente na cidade.
Dois agravantes complicam as vidas da sociedade santarena: as autoridades aplaudem a invasão de novas empresas ocupando o território urbano. O prefeito municipal alega que essas empresas trarão empregos e renda para o município. Os vereadores caminham com as decisões do prefeito; outro agravante é a indiferença da sociedade de tantas agressões sócio ambientais. Com alguns pequenos grupos de moradores que tentam resistência, a outros se inquietam com os assaltos e acidentes de trânsito, mas não conseguem ligar os fatos a causas mais graves.
Assim a poética cidade do encontros das belas águas dos dois grandes rios, cantada antes em versos e músicas, hoje apenas se ouve saudosas cantigas – teu luar Vera Paz saudade da gente trás…
Obs: Coordenador da Comissão Justiça e Paz da Diocese de Santarém (PA) e membro do Movimento Tapajós Vivo.
Autor dos livros: Amazônia: o que será amanhâ? (Vol I e II) e Uma revolução que ainda não aconteceu.