Patricia foto tam.bom

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Foram 4 anos, 80 poemas, professores e colegas especiais e queridos…

Sou a mesma e diversa… Sou feita agora de Poesia e Teoria que habitam o mais recôndito, âmago, espaço precioso do meu ser…

E em gratidão a todos, a Deus, à Vida, e a este que me fez ver as Letras com outros olhos, o Senhor Oscar Fingal O’Flahertie Wills Wilde, lhes ofereço…

(meta)ficção
12/03/14

Ela escrevendo a carta

Escrevia a vida

E temia

Cada palavra em seu lugar

Contava as sílabas

Feito uma parábola

Que de carne

Se fez veias

E pulsou

Explodindo as células

Rotas

Envelhecidas

As rugas transparecendo

Na mão que escreveu

Palavras

Escreveu a vida

E temia

Cada palavra em seu lugar

(Diante da Imagem de Escher, “Drawing hands”, 1948, Litogravura)

*

Mesa de dissecação
02/04/14

O pôr-do-sol bateu em mim

Feito alma reticente

De algum herdeiro meu

Trouxe o espírito da noite

Que imprimi no corpo

Em forma de estrela cadente

Em forma de um sinal doente

Que o médico extirpou

Meu ventre está cheio

De mil possibilidades

E apenas o verso

Lúdico

Único

Crente

Descortinará o sol

Que agora nasce em meu umbigo

(Diante da Imagem de Gunther Von Hagens, Plastinação do corpo humano)

*

Pecado é não escrever poesia
26/04/14

Pego a linha

E vou costurando

As palavras

Prego no peito

E brota sangue

Entre as letras

Entre os signos

Entre-sentindo

O que não sei explicar

Nem dizer

Apenas roçar

O corpo das palavras

Nesta mão que escreve

Porque

Pecado é não escrever poesia

*

Deita no meu ombro amigo
03/07/14

Nos encontramos

Meio por acaso

Meio por destino

Para falar de

Vida

Amor

Poesia

São tantas

Estórias

De ninar acordado

Tantos sonhos

Começando

Devagarinho

Devagarinho

Até se chamar

Amizade

*

Evangelho segundo o eu mesmo
30/07/14

Hoje

Fui em busca

De um livro

Que me disse

O que ansiava

Escutar

Há muito tempo

Estudar

É estar

Apaixonado por si mesmo

E ao mesmo tempo

Se apaixonar por quem o

Escreve

Por o que se lê

Por o que se sonha

Por séculos e séculos

Amém

*

Para não dizer… Saudade
11/08/14, 17h20

O medo

É uma casinha

Sem portas

Onde a coragem

Quer entrar

Aliso

Teus cabelos encaracolados

E não percebo

Estrelas

Saindo dos teus ouvidos

Querendo

Dizer besteiras

Que me façam

Esquecer

O medo

A coragem

E apenas

Um sentimento

Azul

Pulsando

Aqui

No meu peito

*

Era uma vez… Um nome ou A teoria da tradução
06/09/14, 18h00

Traduzir

Um poema

É transformar

Uma pétala

Em flor

Virar

Revirar

Os dois lados

De uma mesma

Moeda

E não encontrar

O sentido

Justo

A palavra

Correta

Apenas

O roçar de letras

Embalsamadas

Em óleos

Ancestrais

Traducir

Un poema

Es transformar

Un pétalo

En la flor

Girar

Voltear

Ambos lados

De la misma

Moneda

Y no se encuentrar

El sentido

Justo

La palabra

Correcta

Sólo

El roce de letras

Embalsamadas

En los aceites

Ancestrales

*

A invenção de Morel
18/09/14, 06h00

Estou perdendo

O poder da fala

Cada vez

Que encontro a ti

Cada vez

Que viro e reviro

A palavra chamada

Amor

A palavra chamada

Ódio

Entre

Pais e filhos

Homens e mulheres

Amantes e amados

Coisas e objetos sagrados

Cada um

Tem duas faces

Cada um

Tem duas chances

De ser

Melhor ou pior

Eterno ou mortal

Além do bem

Além do mal

Todos presos

Numa mesma ilha

*

Quando o ninho esvaziou
07/12/14, 19h02

Juntem-se a mim

As estrelas

Solitárias

Vamos sair

Em roda

Pela praia

O manguezal

As ladeiras

De Olinda

E o Recife Antigo

Andam chorando

Nas noites de lua cheia

Pois o homem

E a mulher

Da meia-noite

Não se encontram mais

No dia

Em que o mar

Bebeu a areia

*

(Entre)Textualidade
30/06/15, 04h50

Acordo

Em meio-à-noite

Com a

Luz a guiar

A ponta

Dos meus dedos

Tecendo palavras

Costurando frases

E o poema

Em mim nasce

Feito amor

De primeira vez

Feito quando abres

O presente

Que embrulhei

Em papel jornal

E descortinas

Um sorriso

E realça

Em tua boca

O verso que busquei

E lutei

E forjei

Entre os meus dedos

Nus

_____________________________________________________________________

O último poema em homenagem a seu objeto de estudo de mestrado, “Oscar Wilde”, será postado em 02/08/2015 no Facebook de Patricia Tenório.

** Escritora de poemas, contos e romances desde 2004, tem oito livros publicados e é mestranda em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco, linha de pesquisa Intersemiose, com o projeto O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde: um romance indicial, agostiniano e prefigural, sob a orientação da Prof. Dra. Maria do Carmo de Siqueira Nino. Writer of poems, short stories and novels since 2004, has published eight books and is master’s degree in Literary Theory at the Federal University of Pernambuco, line of research Intersemiosis, with the project The picture of Dorian Gray, from Oscar Wilde: an indicial, augustinian and prefigural novel, under the guidence of Prof. Dr. Maria do Carmo de Siqueira Nino.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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