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Foram 4 anos, 80 poemas, professores e colegas especiais e queridos…
Sou a mesma e diversa… Sou feita agora de Poesia e Teoria que habitam o mais recôndito, âmago, espaço precioso do meu ser…
E em gratidão a todos, a Deus, à Vida, e a este que me fez ver as Letras com outros olhos, o Senhor Oscar Fingal O’Flahertie Wills Wilde, lhes ofereço…
(meta)ficção
12/03/14
Ela escrevendo a carta
Escrevia a vida
E temia
Cada palavra em seu lugar
Contava as sílabas
Feito uma parábola
Que de carne
Se fez veias
E pulsou
Explodindo as células
Rotas
Envelhecidas
As rugas transparecendo
Na mão que escreveu
Palavras
Escreveu a vida
E temia
Cada palavra em seu lugar
(Diante da Imagem de Escher, “Drawing hands”, 1948, Litogravura)
*
Mesa de dissecação
02/04/14
O pôr-do-sol bateu em mim
Feito alma reticente
De algum herdeiro meu
Trouxe o espírito da noite
Que imprimi no corpo
Em forma de estrela cadente
Em forma de um sinal doente
Que o médico extirpou
Meu ventre está cheio
De mil possibilidades
E apenas o verso
Lúdico
Único
Crente
Descortinará o sol
Que agora nasce em meu umbigo
(Diante da Imagem de Gunther Von Hagens, Plastinação do corpo humano)
*
Pecado é não escrever poesia
26/04/14
Pego a linha
E vou costurando
As palavras
Prego no peito
E brota sangue
Entre as letras
Entre os signos
Entre-sentindo
O que não sei explicar
Nem dizer
Apenas roçar
O corpo das palavras
Nesta mão que escreve
Porque
Pecado é não escrever poesia
*
Deita no meu ombro amigo
03/07/14
Nos encontramos
Meio por acaso
Meio por destino
Para falar de
Vida
Amor
Poesia
São tantas
Estórias
De ninar acordado
Tantos sonhos
Começando
Devagarinho
Devagarinho
Até se chamar
Amizade
*
Evangelho segundo o eu mesmo
30/07/14
Hoje
Fui em busca
De um livro
Que me disse
O que ansiava
Escutar
Há muito tempo
Estudar
É estar
Apaixonado por si mesmo
E ao mesmo tempo
Se apaixonar por quem o
Escreve
Por o que se lê
Por o que se sonha
Por séculos e séculos
Amém
*
Para não dizer… Saudade
11/08/14, 17h20
O medo
É uma casinha
Sem portas
Onde a coragem
Quer entrar
Aliso
Teus cabelos encaracolados
E não percebo
Estrelas
Saindo dos teus ouvidos
Querendo
Dizer besteiras
Que me façam
Esquecer
O medo
A coragem
E apenas
Um sentimento
Azul
Pulsando
Aqui
No meu peito
*
Era uma vez… Um nome ou A teoria da tradução
06/09/14, 18h00
Traduzir
Um poema
É transformar
Uma pétala
Em flor
Virar
Revirar
Os dois lados
De uma mesma
Moeda
E não encontrar
O sentido
Justo
A palavra
Correta
Apenas
O roçar de letras
Embalsamadas
Em óleos
Ancestrais
Traducir
Un poema
Es transformar
Un pétalo
En la flor
Girar
Voltear
Ambos lados
De la misma
Moneda
Y no se encuentrar
El sentido
Justo
La palabra
Correcta
Sólo
El roce de letras
Embalsamadas
En los aceites
Ancestrales
*
A invenção de Morel
18/09/14, 06h00
Estou perdendo
O poder da fala
Cada vez
Que encontro a ti
Cada vez
Que viro e reviro
A palavra chamada
Amor
A palavra chamada
Ódio
Entre
Pais e filhos
Homens e mulheres
Amantes e amados
Coisas e objetos sagrados
Cada um
Tem duas faces
Cada um
Tem duas chances
De ser
Melhor ou pior
Eterno ou mortal
Além do bem
Além do mal
Todos presos
Numa mesma ilha
*
Quando o ninho esvaziou
07/12/14, 19h02
Juntem-se a mim
As estrelas
Solitárias
Vamos sair
Em roda
Pela praia
O manguezal
As ladeiras
De Olinda
E o Recife Antigo
Andam chorando
Nas noites de lua cheia
Pois o homem
E a mulher
Da meia-noite
Não se encontram mais
No dia
Em que o mar
Bebeu a areia
*
(Entre)Textualidade
30/06/15, 04h50
Acordo
Em meio-à-noite
Com a
Luz a guiar
A ponta
Dos meus dedos
Tecendo palavras
Costurando frases
E o poema
Em mim nasce
Feito amor
De primeira vez
Feito quando abres
O presente
Que embrulhei
Em papel jornal
E descortinas
Um sorriso
E realça
Em tua boca
O verso que busquei
E lutei
E forjei
Entre os meus dedos
Nus
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* O último poema em homenagem a seu objeto de estudo de mestrado, “Oscar Wilde”, será postado em 02/08/2015 no Facebook de Patricia Tenório.
** Escritora de poemas, contos e romances desde 2004, tem oito livros publicados e é mestranda em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco, linha de pesquisa Intersemiose, com o projeto O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde: um romance indicial, agostiniano e prefigural, sob a orientação da Prof. Dra. Maria do Carmo de Siqueira Nino. Writer of poems, short stories and novels since 2004, has published eight books and is master’s degree in Literary Theory at the Federal University of Pernambuco, line of research Intersemiosis, with the project The picture of Dorian Gray, from Oscar Wilde: an indicial, augustinian and prefigural novel, under the guidence of Prof. Dr. Maria do Carmo de Siqueira Nino.