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Preconceito é um conceito prévio. É uma espécie de tiro no escuro. A chance de não acertar o alvo é muito grande. O preconceito pode ferir, machucar ou ser fatal. Normalmente, o preconceito, que se processa na esfera metal, vem acompanhado de suas práticas. A segregação, a discriminação, a exploração, a acusação falsa, a dominação, a exclusão, e segue a lista, são modos pelos quais o preconceito ganha corpo, se materializa.

É quase óbvio demais, mas nem por isso deve-se deixar de dizê-lo. E, nesse caso, também de combatê-lo. Salta a evidência de que o preconceito ocorre em função da etnia, cor, nacionalidade, religião, orientação sexual, orientação política, ideológica e um sem número de outros fatores. O fenômeno pode se arraigar mais em determinados contextos históricos, sociais e culturais do que em outros. Nas sociedades ocidentais, tradicionais, interioranas, provincianas ele parece encontrar terreno ainda mais fértil.

De tanto ser preconceituosa, uma pessoa, um grupo ou uma sociedade passa a achar que seu modo de pensar e agir são naturais. A naturalização do julgamento prévio, precipitado ou infundado e a quase automática prática de condenação, violência simbólica ou até física compõe o modo de ser dos assíduos preconceituosos. Em tais casos, o preconceito possui o preconceituoso muito mais do que este possui aquele. Quando o preconceituoso é apossado pelo preconceito, seu conceito prévio lhe soa como a verdade única e a certeza sobre todos e sobre tudo.

Há diversos teores de preconceito e diferentes categorias de preconceituosos. Existem os preconceituosos temporários e os permanentes; os que o são por razões emocionais, culturais, sociais, racionais e irracionais. Há preconceituosos nacionais e estrangeiros. Mas, há também muitos que são nacionais e que estão imbuídos de preconceitos contra estrangeiros e imigrantes. Se forem negros, pobres, mulheres, muçulmanos e desempregados, a chance de serem vítimas dessa epidemia virulenta do preconceito se multiplica por mil.

Com a intensificação da migração, muitos negros africanos e negros de outras nacionalidades estão ingressando no Brasil, bem como se dirigindo para outros países em busca de trabalho e melhores condições de vida. Sabe-se que esse fenômeno é global e vem sendo fortemente estimulado pela escalada da globalização neoliberal. Se, por um lado, nesse tempo as migrações são facilitadas, por outro, elas são ainda mais produzidas e forçadas. Migração forçada é sempre um processo violento e doloroso.

Imaginemos, então, quem é alvo de um processo de migração forçada. Ao chegar a algum lugar, normalmente um local incerto e distante, com direitos de todo descobertos, ao invés de boa acolhida, se depara com o nefasto preconceito discriminatório e condenatório. Pior que isso, impossível. A esses sujeitos de direitos negados, de cidadania em suspenso, o preconceito acaba de sangrar sua dignidade. Contra os preconceitos sem limites, precisamos lutar pelos direitos humanos sem fronteiras aos imigrantes.(23.06.2015)

Obs: O autor é Doutor em Sociologia, pós-doutor em Educação e professor da Universidade Federal do Sul da Bahia.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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