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Camila, meu amor, volte já pra cama. Vamos dormir – Disse Márcia, sua mãe, com uma voz sonolenta. “Mas cadê papai? Eu quero papai” – E a saudade transformou-se no desejo o qual não relutava esperas de seu encontro. Assim dirigiu-se às 3 horas da manhã uma criança de 3 anos até a porta de trás. Calmamente, e com a preocupação de acordar sua mãe, procurou não fazer muito barulho. “Coloque o seu casaco antes de sair de casa! Está frio, Camila!” Buscou em suas memórias o diálogo pertinente de sua amada figura materna. Para não aborrecê-la, vestiu por fim seu casaco lilás com o unicórnio “Adolfo” a quem havia o batizado. Ao chegar à porta, esticou seus braços com o máximo de esforço que lhe sobrava acumulado por sua curta jornada. Ficou de ponta de pés com as lembranças das aulas de balé na TV. Coçou a cabeça como o seu personagem de desenho favorito da TV. “Não consigo. É muito alto”. Bateu com seus pés no assoalho. Ouviu sua mãe se mexer um pouco na cama. Estava apenas mudando de lado. Colocou suas mãos sobre a boca. “Sem barulhos, Camila” Disse a si mesma. Voltou a coçar um pouco mais a cabeça invicta de que a solução chegará devido a referente ação. Mordeu seu lábio inferior e com o seu polegar como guia e um dos seus olhos fechados passeou por toda a cozinha até parar sob a cadeira da mesa de jantar “É isso!”. Dirigiu-se até o assento, suspendeu com sua força restante e por fim alcançou a fechadura. Por sorte estava aberta e quão feliz ficou ao perceber “Papai! Papai! Papai!” Eram todos elementos únicos na essência momentânea de seus pensamentos.
Sabia onde seu pai trabalhava. Não era longe, era logo ali quando se atravessava uma longa estrada calçada e cinzenta.
Fiquei. E esperei.
Esperei os carros paralisarem um pouco.
Estava mesmo muito frio naquela noite. Ficou feliz por ter escutado sua mãe e sabia que ela ficaria feliz com o lembrete.
“Mas o que você está fazendo?!”
“Oi?”
“No meio da rodovia! Onde estão os seus pais?!”
“Eu estou a procura dele, se o senhor me permitir”
“É de extrema importância que você entenda o quão perigoso é estar aqui não apenas às 3h30 da manhã, mas em qualquer horário! Na verdade você não deveria nem estar sozinha”
“Mas eu não estarei sozinha assim que encontrar o meu pai”
“Onde o seu pai está? Vou levá-la até ele agora mesmo”
“Ótimo! É logo ali, ao atravessar a rua grande”
“Onde?”
“Ali ó” E apontou ao outro lado da rodovia
“Escute-me, vamos fazer o seguinte. Eu vou acionar a Polícia e lá eles te levarão até o posto policial”
“Não! Mas eu quero ver meu pai”
“E você vai. Lá não faz frio e eles vão ligar para o seu pai e ele vai vir lhe buscar”
“Estou mesmo com muito frio, moço”
“Eu sei”
“Mas se chamar os homi papai fica brabo.”
“Na verdade ele ficará muito feliz em vê-la”
“Então tá bom”
E assim Jhonatas, caminhoneiro gente boa, acionou a Polícia Rodoviária Federal que assim como prometeu levou Camila até o posto policial. Lá eles ligaram para o Conselho Tutelar e enquanto não obtinha respostas e cativados pela inocência e bondade de Camila, reservaram com o que tinham um cantinho para a pequena dormir.
Adormeceu com a promessa de que ao acordar seria abraçada pelo seu pai.
Obs: Imagem enviada pela autora.