“De cada 20 canções de louvor, cantadas nos templos católicos e evangélicos, 19 falam e cantam o louvor! …A solidariedade, a compaixão e a família raramente são celebradas nos templos. Isso, quando 130 dos 150 salmos cantam a libertação dos pobres e de um povo oprimido.”
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“Os cristãos desistiram de cantar a solidariedade e a compaixão! Vão na direção oposta aos profetas libertadores. Os profetas não fugiam destes temas. … Liturgia não é só louvor. Também é teologia, sociologia, catequese familiar e compaixão”.
Pe. Zezinho SCJ.
Estas preciosas citações do Pe. Zezinho, suscitam uma reflexão sobre o descaso que é dado atualmente em nossas igrejas ao canto e à música litúrgica.
A íntegra do artigo por ele escrito, cujo link segue abaixo para quem o desejar ler, traz uma crítica séria, destacando, justamente, o conteúdo light e descomprometido adotado por alguns dos movimentos surgidos na Igreja Católica em suas músicas rituais, bem como nas músicas religiosas em geral.
Este fato torna-se mais grave quando tal tipo de música descomprometida e sem conteúdo extrapola os espaços dos eventos religiosos pretensamente evangelizadores, sob a forma de shows que arrebanham multidões e, inapropriadamente, invadem as celebrações eucarísticas, batismais ou dos diversos sacramentos da Igreja. Aí sim, é totalmente desaconselhável essa espécie de música, por ser desconectada com a vida e a realidade do povo, além de ser descontextualizada e sem base nos Evangelhos nem nas leituras bíblicas da Palavra de Deus, vindo assim a desvirtuar o sentido mistagógico e litúrgico, próprios da celebração do Mistério Pascal de Jesus, o qual acontece especialmente na Celebração Eucarística.
Nesse sentido, são dignas de registro as poucas e honrosas exceções não alcançadas pela excelente análise crítica do Pe. Zezinho. Assim, à guisa de exemplo, merecem referência e destaque as músicas do Hinário Litúrgico da CNBB e do Ofício Divino das Comunidades, compostas por poetas e músicos versados em Liturgia, em grande parte nordestinos, cujos textos são fundamentados e inspirados nos Evangelhos. Musicados com criatividade e técnica, demonstram a verdadeira simbiose entre o texto e a música enraizada na vida e na cultura do povo. E assim, os textos bíblicos tornam-se poemas musicados, a serviço da Palavra de Deus para o povo ao qual ela se destina.
Esta, sim, é a verdadeira música litúrgica, cujo conteúdo da letra realçado pela beleza melodiosa da música, desperta a reflexão para a Palavra de Deus e suscita a participação ativa, consciente e frutuosa das assembleias celebrantes.
Entretanto, essa riqueza litúrgica e musical representada pelos cantos do Hinário Litúrgico e do Ofício Divino das Comunidades, não é devidamente valorizada e talvez nem seja conhecida pelos movimentos surgidos na Igreja Católica, a exemplo dos pentecostais, cujos cantos e músicas possuem conteúdo intimista, sentimental, meloso, emotivo, alienante ou no estilo alucinante das bandas de instrumentos ruidosos, acompanhados por palmas, gesticulações exageradas, gritos, etc., por parte das denominadas “Juventudes Swingueiras”, embaladas, principalmente, pela emoção superficial e momentânea.
Como produto desse descaso com a música e o canto litúrgicos, surgiu a onda atual de padres cantores que, sob o pretexto de uma pseudo evangelização, ocupam-se em tournés musicais, no intuito de atrair seguidores para a Igreja, tentando incutir a fé em quem não a possui ou avivá-la nos fiéis, sem desprezar também o resultado material proporcionado pela venda de CDs e DVDs em cada evento.
Disso tudo, surgem as seguintes indagações: Será que nesses eventos a palavra de Jesus Cristo penetra realmente no coração das pessoas ou ela é abafada e se perde na parafernália de sons instrumentais produzidos nos shows dos tais padres cantores? Será que em meio às emoções induzidas e exacerbadas pelos shows de músicas religiosas haveria clima para a experiência de fé ensinada pelo apóstolo Paulo, quando afirma que “a fé entra pelo ouvido”? Eu me permito duvidar de que o êxtase emocional que embala as multidões seja o caminho adequado para exercitar a evangelização e enraizar a fé em Jesus Cristo.
Acredito, pelo contrário, que a música litúrgica de conteúdo inspirado na Bíblia e na Tradição Patrística da Igreja, poderá favorecer a escuta da Palavra de Jesus, levando à reflexão e à vivencia da fé, conforme o ensinamento do apóstolo Paulo. Somente assim, se alcançará a verdadeira fé consciente, ativa e frutuosa, resultante da real evangelização, preconizada pelo Concílio Vaticano II, e presente nas exortações do iluminado pastor, o Papa Francisco.
Esperemos que os pastores da Igreja despertem para a sua verdadeira vocação que é a evangelização pela pregação, pela escuta da palavra e pelo seguimento de Jesus. Sejam estes exercícios a prioridade maior de seu magistério pastoral.
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