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Mamãe dizia, com uma precisão fantástica, que dois dias depois de vovô Aristides e família se instalarem no sítio, na sequência da rua do Canto Escuro, soube que a senhora da casa grande, ali na frente, ou seja, d. Clotilde, esposa de Zeca Mesquita, tinha dado à luz uma filha. Data exata: 13 de maio de 1938. Nome que a menina ganhou: Maria Helena. Deste fato me lembrei no último dia 13 de maio, ao mandar mensagem, via e.mail, de parabéns para Maria Helena Silveira, no esplendor de seus setenta e sete anos, idade que a aniversariante não esconde, nem há necessidade, por ter, ao longo da vida, enfrentado adversários piores, de modo que, não será a idade, a avançar sempre para a frente, que vai agora lhe perturbar a disposição para ir tocando a vida para a frente, mexendo no seu sorriso e na sua cara de alegria.

Para mim, há muitos anos que o 13 de maio deixou de ser feriado nacional para simbolizar apenas o aniversário natalício de Maria Helena pela admiração que lhe devoto. Tivesse tempo e disposição, escrever-lhe-ia a biografia, a partir de suas narrativas. Como não tenho, me contento em aclamar que, entre as grandes mulheres nascidas em Itabaiana, Maria Helena figura entre as três primeiras, pela coragem com que sempre se portou, pela vazão que deu aos seus sonhos e desejos, pela fartura de amores,  por viver sua vida  como se estivesse num grande centro, por ser autenticamente ela, corajosa, livre, águia que sempre esteve no cume da montanha, a fitar o solo, lá embaixo, com a superioridade de sua índole, enfrentando e superando as tempestades que desabaram em sua roça, sem perder nunca a disposição para a luta do dia seguinte.

O tempo a transformou na grande e infalível testemunha de todos os acontecimentos forenses,  ocorridos na comarca de Itabaiana, como a conheci, menino ainda, a vê-la, de longe, na sala da Prefeitura, transformada em forum, a dedilhar a máquina de datilografia numa rapidez e precisão que sempre me impressionaram; a levar feitos para despachos do juiz de então, se transformando em guardiã dos segredos que das ante salas não saiam – v. g., a passagem pela casa de Euclides com os processos em mão, e, de cada, oferecer as explicações devidas, a fim de receber o sinal verde ou vermelho para seguir ou parar, de acordo com a cor partidária das partes -, catalogando em seus cadernos a aprendizagem captada do contato com os diversos magistrados que por lá passaram, tirando do semblante de cada um a capacidade de vôo.

  Maria Helena Silveira não é uma mulher comum, disciplinada, de ir para a Igreja e comungar, do burocrático feijão com arroz. Foi o que foi, nos muitos amores vividos, sobrevivendo a todos, sem guardar mágoa alguma do passado, na referência que faz a cada um em seus diálogos, na caminhada em direção ao futuro, sem se dar ao trabalho de olhar para trás para ver os cacos quebrados. Uma senhora mulher, ou uma mulher e tanto, dessas que o tempo transforma em ícone ou em coisa sagrada, mulher, afinal, que nasceu para fazer história.

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Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras.
Obs: Publicado no Correio de Sergipe.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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