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Recebi por e-mail um artigo intitulado “Miados Inefáveis” e, após a sua leitura,  constatei que ali nada havia de aproveitável em termos de orientação do canto litúrgico e particularmente no que se refere aos Salmos, de que trata e pretende orientar sobre como devem ser utilizados nas celebrações.

O artigo sob comentário alude, também, ao canto gospel e promove a exaltação ao canto gregoriano, formas que não se aplicam  às assembleias populares nem às pastorais de canto litúrgico, após as orientações do Concílio Vaticano II. Assim, o tal artigo não seria recomendável, especialmente porque  o seu conteúdo reflete a linha ultra radical e tradicionalista da Igreja e nem podia ser diferente, porquanto foi escrito por um leigo ligado aos blogs “Deus Lo Vulp” e “Salvemos a Liturgia”, que são o que há de mais retrógrado na Igreja, ou seja, estão ainda na linha do  Concilio de Trento, e fazem apologia ao radicalismo doutrinário, à liturgia tridentina, às celebrações em latim com o padre de costas para o povo e, principalmente, à desqualificação e inaceitação do Concílio Vaticano II, do qual esses grupos são ferrenhos críticos. Esses aspectos claramente revelados no perfil do autor, são indicativos suficientes para desaprovar o conteúdo do artigo “Miados Inefáveis”, por inaproveitável para orientar o canto dos Salmos.

Portanto, após a leitura do citado artigo, na verdade, a única coisa que ali se aproveita é a crítica que o autor faz sobre as pessoas que cantam salmos com miados inefáveis, por não ser esta uma forma adequada de se cantar os Salmos. Entretanto, ao fazer a crítica ele envereda por posições não adotadas pela Igreja pós conciliar, e afirma que para evitar os tais miados inefáveis, é preferível que o salmo seja lido, para salvar pelo menos o texto. Com relação a essa afirmação sobre ler o salmo, ao invés de cantá-lo, ela é completamente infundada e contrária à liturgia, posto que os Salmos, sempre foram orações de súplicas ou de louvores dirigidos a Deus sob a forma cantada e acompanhados por instrumentos, sendo sua estrutura fundamentalmente poética. A riqueza dessa oração sob a forma de poesia musicada foi resgatada pelo Concílio Vaticano II, como um dos instrumentos de participação do povo na liturgia. Assim é que, na celebração eucarística o Salmo é parte integrante  da Liturgia da Palavra, sendo resposta à Primeira Leitura, fazendo com que a assembleia litúrgica participe intensamente do Salmo Responsorial.

Ademais, o autor faz declarações contrárias ao ecumenismo quando afirma: “Um culto protestante é basicamente um falatório, sem que nada de sobrenatural possa ali acontecer.” Afirmação dessa natureza vai de encontro ao que é recomendado pelo Concílio Vaticano II, em relação ao ecumenismo para aproximar os cristãos.

Por tudo isso, entendo que o conteúdo do referido artigo intitulado “Miados Inefáveis” não tem nada a acrescentar em termos de orientação para cantar os Salmos e, por outro lado, é absolutamente desaconselhável no que se refere à recomendação do Concílio sobre a importância e a necessidade de aproximação da Igreja com as demais denominações cristãs, fato que tomou bastante impulso com o Papa Francisco.

 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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