Gerson F. Filho 1 de agosto de 2015

ao dia dos pais

 

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Uma história pessoal em homenagem ao dia dos pais.

Um breve passeio na história.

É quase certo que vocês não saibam, não tive a oportunidade de contar essas coisas para vocês, mas sempre surge uma chance. Meu avô paterno, Antônio Artur, um potiguar casou-se com a amazonense Leonilia, eles geraram três filhos, Gerson, Arlete e Ruth, lá na cidade de Porto Velho. Anos depois foram para Manaus. Quando completou a maior idade Gerson, o avô de vocês, de espírito inquieto, trabalhando na marinha mercante (não sei se foi bem assim), veio desembarcar no Rio de Janeiro para de lá nunca mais sair.

Não tinha muita escolaridade, então teve que trabalhar duro, encontrou o trabalho que sua capacidade atendia: garçom. Como era branco (naquela época isso era muito importante), conseguiu bons empregos para a especialidade que trabalhava. Era a época dos grandes cassinos (o jogo era liberado no Brasil), trabalhou em casas importantes da época como o Cassino da Urca, o Café Nice, Sírio Libanês etc. Sempre fazendo o possível para ser o melhor no que fazia.

Claro, dinheiro não nasce em árvores, e para ganhar o pão de cada dia, garantir o pagamento do aluguel da residência e tudo mais, viveu grande parte da sua vida no trabalho. Não teve muito tempo para mim, que fui fruto da sua união matrimonial com Alayde, uma operária carioca de Madureira. Essa que teve que parar de trabalhar para cuidar de mim.

Cresci vendo meu pai vir para casa, deixar dinheiro para minha mãe, pegar o uniforme de garçom já engomado, e sair novamente para trabalhar. Aos nove anos de idade, ele me levou pela primeira vez ao Maracanã para ver um jogo, era Flamengo e América. Deste dia em diante, quando tinha tempo esse passou a ser o nosso encontro, ir ao estádio ver futebol. Às vezes alguns amigos de trabalho dele apareciam para um bate papo, e eu via que ele era respeitado no meio, devido à qualidade e forma correta com que trabalhava.

Mesmo não tendo tempo para mim, esse foi o exemplo que me deixou e que sempre procurei seguir. Se quiser melhorar de vida; trabalhe, estude, seja o melhor naquilo que faz. Encontre respeito entre seus pares, seja honesto. Isso não o levou a fortuna a riqueza, mas teve uma vida digna, dentro das expectativas dele. Eu fui pobre, mas ele sempre me ofereceu um teto para me abrigar, e no mínimo três refeições por dia. E graças a isso pude estudar trabalhar evoluir e chegar onde estou certamente muito além do que ele tenha sonhado para mim.

A história de certa forma se repetiu, eu também não tive tempo, e força para ser aquele paizão (aquela imagem que vendem por aí), será que ela é real? Entreguei-me ao trabalho, como meu pai; procurei ser o melhor no que fiz e no que faço. Mas assim como ele deixo o exemplo, aquele que ele me passou, eu passo para vocês. A vida não é um parque de diversões, embora momentaneamente pareça, e nenhum esforço ficará em vão. Alguém lá em cima cuida dos justos, então seja um deles.

Abraços,

Seu pai,

Obs: Imagem enviada pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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