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Já decidi o que farei  depois de minha aposentadoria. Martelo batido. Serei prefeito. De onde, não sei ainda. Pode ser de uma cidade banhada por um grande rio, por um rio pequeno, ou quem sabe lá, até por um riacho. Da beira do rio faço questão, pelos projetos que dominam meu cabedal de propostas.  Não vou copiar a do Rio Sena. Em absoluto. É muito grandioso para colocar em prática em somente quatro anos de mandato. Mas, darei  vida, com pistas de corrida, os tipos, com espaço suficiente para se transformarem em grandes árvores parideiras de gostosas mangas.

Não posso conceber uma cidade  sem a presença de praças e, nas praças, as árvores. Praças enormes, com bancos na sombra das árvores, destinados aos namorados, aos casais felizes e infelizes – por ser um ambiente propício para selar uma boa paz -, com pistas para as caminhadas, aproveitando áreas da planície, para evitar ladeiras, chafariz em todo lugar com água potável, a certeza de ninguém ser assaltado, a presença de pássaros de várias matizes para dar outro toque ao local, seja praça, seja parque, seja o que for, com uma bonita e arredondada fonte no meio, e, bem no seu centro, a estátua de uma sereia sendo admirada por um pescador, por um tocador de saxofone  e por um poeta.

Fico tranquilo, assim. O dia seguinte ao da aposentadoria sempre me assustou, quando não tiver mais um processo para nele me debruçar e proferir meu decisório. Agora, vôo sem turbulência. Ser prefeito, para construir praças e parques, abrir avenidas com canteiros de ambos os lados, ver minha urbe cheinha de mangueiras, é o caminho a seguir, colocando experiência e sonhos a serviço da comunidade. Excelente. Agora é aguardar o tempo passar para, com a aposentadoria, ser prefeito. Este o primeiro problema. O segundo é procurar um partido que se amolde aos meus projetos, me lançar candidato e sair as ruas em campanha, a pedir voto. Bom. Não me agrada esse. Talvez espere o convite da comunidade, a dispensar a eleição. Aí, então, garanto, numa entrevista coletiva, hipocritamente, proclamarei que aceito o sacrifício.

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Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras.
Obs: Publicado no Diario de Pernambuco

 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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