dom seb o beijo

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Já não achando mata
pra se esconder
e abrigar-se na noite
mergulhava
sua bola luminosa
nas águas do rio.

(No começo duvidei
se era mesmo água ou
se a camada branca
de nuvens mais baixas,
mais adiante era claro:)

Era o rio (qual deles?)
Largo como mar
corria
no sentido do comprimento
que o mar corre
no sentido da largura
a espalhar-se para os lados
Ilhotas de vegetação
plantadas no meio das águas.

O vermelho e o amarelo
alaranjado, largos
se espalhavam
para os lados
a derramar-se
na paisagem de fundo
levemente verde escuro.

De repente
um vermelho de fogo
a incendiar
o que restava de mata
(como se não bastassem
todas as queimadas
que devastam a floresta).

Felizmente
durou pouco
não passou
de repentino e ardente
beijo do sol
abraçado
com este mundo aqui de baixo.

(O cair da tarde
pode até ser melancólico
mas é sempre inspirador
para o amor e
parece que o sol e a terra
também devem senti-lo
ao recolher-se para a noite).

De repente
o rubro
em rosa suavizou-se
e a paisagem toda
sugeria doçura
o mundo marcado
por alegria tranqüila
o céu a anunciar
que a noite
não vinha para assustar.

As nuvens brincavam
deformar figuras
de coisas e de bichos:
debaixo de enorme plataforma
imenso jacaré
em dimensões de dinossauro
suspenso no espaço;
mais atrás
animal ainda maior
dianteiras fincadas
no chão do céu
preparava-se a saltar
como para dar o bote;
mais além
novo jacaré
desta vez monstruoso
cabeça nas nuvens e
corpo projetando-se mata a dentro;
finalmente
outra plataforma
a base nas nuvens
densamente unidas
co’a mata
se projetava no céu
cada vez mais fina
com aquela coragem arriscada
das obras de arquitetura
de Niemeyer.

(E eu fiquei desejando voltar
a ser criança
para descobrir no céu
muitas figuras de coisas e de bichos…).

Só o claro do rio
se recusava
a acolher a escuridão
o espelho d’água
insistindo até o último minuto
em manter-se
cor de rosa
mas a noite
lenta, sem alarde,
silenciosamente
feito denso véu
implacável
baixava.

De volta da Prelazia de São Félix do Araguaia
12 de Julho de 2015

Bispo Emérito da Diocese Anglicana do Recife
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – IEAB

Obs: Imagem enviada pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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