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Recentemente, ao ligar a TV Senado, deparei-me com uma cena patética. Senadores indignados e revoltados com a notícia de que oito senadores brasileiros, precisamente, Aécio Neves, Aloysio Nunes Ferreira, Cássio Cunha Lima do PSDB, José Medeiros do PPS, Ricardo Ferraço do PMDB, Sérgio Petecão do PSD, Ronaldo Caiado e José Agripino do DEM, ao desembarcarem de um jato da Força Aérea Brasileira, na capital da Venezuela com o intuito de se dirigirem ao presídio onde se encontrariam com líderes da oposição ao governo venezuelano, teriam sido hostilizados por militantes bolivarianos.

Segundo a alarmante notícia, o veículo que conduzia os políticos brasileiros ficara preso no trânsito de Caracas, supostamente por fechamento proposital dos acessos, além de ter sido alvo de pancadas e pedradas pelos supostos militantes, ocasionando insultos entre eles e os senadores.

Essa notícia repercutiu clamorosamente no meio dos senadores de oposição, que da tribuna do Senado se desdobravam em discursos inflamados e neuróticos, exigindo explicações sobre o incidente e medidas severas pelo Senado e por parte do Governo, como se tivesse havido um atentado terrorista  da Venezuela contra o Brasil, tamanho era o exagero nas manifestações de solidariedade aos oito parlamentares, além das críticas dirigidas à presidenta Dilma.

Perante o clima de exacerbação, alguns senadores do PT e da base aliada do governo Dilma chegaram a pedir moderação nas críticas e nas preocupações exageradas face às noticias não comprovadas sobre as supostas hostilidades aos senadores brasileiros.

Por oportuno, é despiciendo dizer-se que, a agressão e a violência são condenáveis em qualquer circunstância e contra qualquer pessoa. Porém o bom senso também aconselha a não se fazer tempestade em copo d’água, especialmente quando a situação ainda se encontra na fase das suposições e especulações.

Entretanto,é sabido que a Venezuela vive sob constante tensão, em face da ameaça de desestabilização política provocada pela oposição ferrenha e sistemática da direita contra o governo do presidente Nicolás Maduro, além da precária situação de sua economia em vista da grande desvalorização ocorrida no valor internacional do petróleo, principal fonte de renda daquele país. Por isso, não deveria ser surpresa para as “excelências brasileiras”, todos declaradamente opositores do governo venezuelano, que a recepção deles naquele país não seria calorosa, como talvez eles esperassem e até, pretensiosamente, se considerassem merecedores.

Ademais, os citados senadores não estavam em missão oficial do governo brasileiro e muito menos eram convidados do governo venezuelano. Tratavam-se, apenas, de visitantes por sua própria conta e risco. Nestas condições, empreenderam a temerária e frustrada viagem com o objetivo de visitar líderes da oposição venezuelana como, Leopoldo López, preso sob acusação de incitar a violência em protestos contra o governo, assim também ex-prefeito de Caracas, Antonio Ledezma e o ex-prefeito de San Cristóbal, Daniel Ceballos. Como se vê, todos presos por hostilizarem o governo de Nicolás Maduro e, como é sabido, tendo o respaldo dos Estados Unidos, para insuflarem a direita venezuelana contra as medidas sócio-econômicas em favor da população daquele país.

Portanto, o simples  fato de estarem na Venezuela apenas como visitantes, não lhes conferia nenhuma deferência de tratamento especial por parte da população que, desde a morte de Hugo Chaves, vem sofrendo o peso de uma situação sócio econômica e política, difícil e penosa, atribuída aos ataques da oposição, que tenta de todas as maneiras golpear o presidente Maduro.

Certamente, os “altruístas” senadores imaginavam que tudo seria como no Brasil, onde eles gozam de inúmeros  privilégios, desde o salário descomunal em comparação com o da maioria da população, até os salamaleques dos seus pares quando eles, diuturnamente, agridem, difamam e desrespeitam o governo e até a própria presidenta da República.

Afinal, qual era o interesse de irem à Venezuela, sem permissão oficial do governo brasileiro nem convite do governo venezuelano? Certamente seria para bisbilhotar  o governo Maduro, o que renderia muito assunto contra a Venezuela, nas sessões do Senado, especialmente porque a cantilena do impeachment entoada por eles, tem reduzido o tom, em face de pressões das empresas estrangeiras, que não querem saber de por em risco seus vultosos capitais investidos no Brasil, por conta de irresponsabilidade da oposição. Assim, os “nobres” senadores que, como se sabe, não são muito afeitos a trabalho, haja visto comparecerem ao Senado durante apenas três dias por semana, precisavam de motivação para suas andanças, em aeronave da Força Aérea, ou seja, à custa do dinheiro público.

Diante desse fato, perguntar não ofende: Por que a viagem em avião da Força Aérea Brasileira, visto que eles não estavam em missão oficial do governo brasileiro e sabendo-se que existem vôos diários saindo do Brasil para a Venezuela e vice-versa?  Ora, é claro que para os senadores era mais cômodo e sem custos financeiros viajarem num jato da FAB. Aí vem a outra pergunta: E os aviões da FAB não são apenas para o serviço das necessidades de defesa e segurança do Brasil, ou para missões específicas sob o comando da aeronáutica? Então, por que a benesse em favor da comitiva de senadores?

Ao que parece, esse episódio tão maximizado pelos políticos da oposição, não passa de um factóide, destinado à vitimização dos referidos políticos, fazendo-os pousar de heróis em suposta missão pacífica  e humanitária. Só não dá para acreditar que figuras como Aécio Neves, Aloysio Nunes Ferreira, Cássio Cunha Lima e Ronaldo Caiado, Agripino Maia, José Medeirtos, Ricardo Ferraço e Sérgio Petecão tenham ido à Venezuela como mensageiros da paz e dos direitos humanos. Onde estavam quando a presidenta Dilma foi publicamente ultrajada e execrada num estádio de futebol perante milhares de pessoas? Não se viu por parte desses senadores nenhuma manifestação de repúdio ao ato indigno e covarde, perpetrado pela direita que move a oposição no Brasil. Também, por que não exerceram seu altruísmo quando as redes sociais extravazavam o ódio dos sulistas contra os nordestinos por votarem em Dilma?

De fato, o que se sabe sobre  altruísmo no Congresso é que foram os políticos do PSDB e partidos da oposição ao governo do PT que extinguiram a CPMF, retirando do sistema de saúde a bagatela de quarenta milhões de reais destinados à saúde pública, em prejuízo da população brasileira. Portanto, o que se vê no Senado e na Câmara é muito farisaísmo e hipocrisia por parte de senadores e deputados da oposição, cuja ocupação principal é tentar desestabilizar e prejudicar o governo de Dilma, em vista de uma presumível volta de Lula em 2018.  Aliás, esta perspectiva, faz a oposição ranger os dentes e estremecer de pavor. Por isso é que, nos três dias em que dão expediente no Senado, os senadores oposicionistas, sistematicamente, assacam contra o governo Dilma, apostando no quanto pior, melhor.

Na verdade, essa calamitosa viagem dos senadores à Venezuela, foi um despautério, sem contar que constituiu, também, um desrespeito ao governo venezuelano, podendo mesmo ser considerada como uma invasão àquele país, pois os tais senadores brasileiros não foram convidados pelo presidente Nicolás Maduro ou por qualquer ministro do seu governo e, por conseguinte, não tinham autorização para visitar presos políticos ou  para exercerem qualquer manifestação de cunho político na Venezuela.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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