O convite para ir ao deserto sob o olhar amoroso de Deus, implica na consciência de nossas fragilidades, mas, ao mesmo tempo com a convicção de ser profundamente amados. Cheios de confiança e com humildade, vamos olhar nossos caminhos, vamos colocar-nos em atitude de escuta atenta, empenhando-nos em redescobrir e retomar nossa vida de cristãos, acolhendo esse tempo como tempo de confronto e de decisão, procurando discernir a vontade de Deus para nossa vida, a exemplo de Jesus. E depois, cheios do Espírito que Deus vai derramar sobre nós, podemos retomar nossas atividades.
Deserto é também lugar do silêncio. São Francisco de Assis dizia que “onde há paz e meditação, não haverá nervosismo e agitação”. É no silêncio que os sentimentos poderão ser esclarecidos, que as emoções confusas poderão ser compreendidas, que o emaranhado de desejos e compulsões poderá ser organizado. Da experiência do confronto num ambiente de silêncio, pode nascer a vida nova. Nesse silêncio, mesmo em meio às ansiedades e temores, poderemos orar confiantes ao Pai, pedindo o dom do Espírito, para iluminar nossos passos. Para isso Jesus é nosso modelo. Ele, com freqüência, retirava-se para orar ao Pai.
Certamente poderá nos ajudar a orientação do apóstolo Paulo: “Orai sem cessar. Daí graças, em toda e qualquer situação, porque esta é a vontade de Deus, no Cristo Jesus, à vosso respeito…” (1Tes 4, 17-18). Orar sem cessar deve ser a nossa atitude e isso significa orientar para Deus tudo o que fazemos, buscando discernir e realizar sua vontade. Mas eu diria que significa, sobretudo, permanecer no amor, entregar-se confiante ao amor de Deus para deixar-se amar por Ele.