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………Outro dia, já acomodado na aeronave, entre as pessoas que adentravam, uma, em especial, me chamou a atenção, pelas características físicas: o rosto redondo, os olhos esbugalhados, a gola chegando até o pescoço. Aí, não tive jeito: vi, no rosto do estranho, a incrível semelhança com o sapo. Parecia um sapo bípede e gigante. Aí me lembrei da artista da Globo, com o rosto comprido, bonita, sim, deixando clara a semelhança com o focinho do cavalo. Do tempo de Carlos Lacerda governador do Rio, um bandido com o apelido de Cara de Cavalo. Veio à tona, pincelado lá da infância mais remota, o meu conterrâneo, caminhando, pernas em curvas, passo para um lado, para outro, com inclinação, igualzinho a um orangotango, sem tirar nem por. Era só colocar numa jaula e ninguém desconfiaria.

      Se o homem está a fazer alguns trejeitos, não há outra palavra mais apropriada que macaquice para traduzir sua atitude. O político esperto é  comparado a uma raposa, o valentão a uma onça, o corrupto a um rato. Exemplos que colhi em Humberto de Campos. Acrescento o de gata para a menina dengosa, cheia de manha. Aquele que fala demais é chamado de arara ou papagaio. Não deixemos de lado a palavra burro, para o sujeito pouco inteligente, como se usa igualmente anta ou toupeira, nem a mulher cujo repertório de namoros lhe acarreta o apelido de galinha, e, ainda, com a qualificação – galinha de pescoço pelado -, como igualmente o de cadela, nem a palavra porco dirigido a quem que não toma banho.  O preguiçoso invoca a  preguiça. O homem trabalhador é uma formiguinha; o sujeito grosseiro é considerado um jegue ou um cavalo. O que nada com rapidez é um peixe. A pessoa gorda é uma baleia. O orador excelente é uma patativa. O sábio é uma coruja. Não vou falar no veado, que dispensa comentários. O homem, em cuja legião de namoradas, ingressa a mulher feia, é chamado de urubu, porque gosta de carniça.

           Em Itabaiana, um aposentado, que vivia recluso em sua casa, costumava ver da janela a vida que passava. Quando algum conhecido se aproximava, ele, rapidamente, fechava a janela. Depois, reabria para se manter na mesma posição. Meu avô o apelidou de cágado, termo que se emprega também para o homem, cujo cabeça, inclinada para a frente, chega antes do corpo. Outro, lá também de Itabaiana,  o rosto semelhante ao focinho de um cachorro buldogue, de um cidadão chamado de Cajuza, ganhou o apelido de Cachorro de Cajuza. Cito os dois casos em Apelidos em Itabaiana.

           O homem se parece com o animal. Mas, o animal não guarda semelhança com o homem, com raríssimas exceções. O parentesco é nosso com ele. Não é dele com a gente. O animal, talvez, queira manter distância. O homem quer aproximação, para matar sua solidão. Daí imitar o animal, sem disfarce algum, colocando o animal para falar, transformando-o em personagem de desenho animado, levando-o para o cinema. Se tivéssemos acesso a comentários do animal, em geral, encontraríamos uma assertiva diferente da contida na Bíblia, de que o homem não foi criado à imagem e semelhança de Deus. Ao contrário, o animal é que foi tomado como paradigma.

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Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras.
Obs: Publicado no Correio de Sergipe.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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