Hélder,
menino pequeno,
voz forte de homem feito,
nordestino do mundo, intrépido arauto da justiça,
olhos de misericórdia,
vestes de simplicidade.
Destemido, corajoso na denúncia
a toda forma de desrespeito aos direitos humanos,
especialmente aos direitos e dignidade dos pobres.
Pastor do Povo de Deus.

Homem do silêncio-denunciador;
silêncio dos possuídos por Deus
que incomoda os poderosos.
Continua a nos ensinar o grande valor da vida
que é transformá-la em serviço libertador aos irmãos.
Homem do silêncio-oração;
silêncio que educa a participar da construção do Reino
na história dos homens,
sem se perder ao longo do caminho.

Homem do silêncio-irmandade;
silêncio que sabe acolher o outro como pessoa
a ser amada e acolhida.
Silêncio que deseja acolher a todos os homens e mulheres,
de todas as raças e cores,
numa única oração da unidade.

Homem do silêncio-dos-fracos;
silêncio que manifesta a força de Deus
e extermina a prepotência dos poderosos deste mundo.
Silêncio que recolhe a pequenez e insignificância do pobre,
transformando-a na força da união
e na organização dos pobres e pequenos.

Homem silêncio-sofrimento;
silêncio que insere na Cruz de Cristo
as perseguições, as calúnias, as incompreensões
sofridas pelo pastor.

Homem do silêncio-humildade;
silêncio que paira e plenifica o coração
e não deixa penetrar o desejo de auto-promoção,
o orgulho dos soberbos.
Silêncio que vigia o tabernáculo das renúncias quotidianas,
abrindo o coração ao reconhecimento do Espírito de Deus
que age em cada ato, em cada palavra.

Homem do silêncio-escuta;
silêncio que abre os ouvidos
ao grito incessante, inconfundível dos oprimidos,
e que inquieta, questiona o modo de ser cristão
na América Latina.

Homem do silêncio-ressurreição;
silêncio que inundou a sua alma de luz,
de certeza, de vida nova.
Silêncio que no último momento
re-ssurreição para os seus amigos e irmãos.

Hélder recusou o silêncio dos covardes,
que temendo a perda dos privilégios e os poderes temporais
vendem até a própria alma
e compactuam com a morte do mais fraco, do inocente.

Hélder recusou o silêncio dos acomodados,
que diante das necessidades e sofrimentos dos irmãos
conservam o coração indiferente.

Hélder recusou o silêncio dos poderosos deste mundo.
Refutou sua tramas, seus satânicos projetos.
Jamais quis está do lado
dos que calam com a violência a boca profética.
Jamais sujou suas mãos no sangue do inocente,
dos torturados e martirizados.

Hélder recusou o silêncio dos alienados religiosos;
silêncio que esconde na exagerada preocupação com os ritos,
vestes e celebrações litúrgicas,
o descomprometimento com o novo modo de ser Igreja
dos pobres de Jesus Cristo:
totalmente de Cristo,
totalmente de todos os homens.

A hora de tua morte, Hélder,
não é para nós hora de dor, tristeza e desolação.
A tua hora, Hélder, é somente hora de partida.
E a tua partida é para nós festa, alegria, encontro de irmãos,
que se unem numa só oração para dizer-te: “Adeus”.

O teu corpo cansado, inerte diante de nossos olhos
é certeza da vitória da vida.
A tua face serena nos fala de Reino-Ressurreição.

O canto espalhou-se no silêncio do túmulo,
penetrou no seio da mãe Terra.
Doce mãe, acolhe teu filho que peregrinou neste mundo
e agora, vai para a casa do Pai.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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