Padre Beto 15 de julho de 2015

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Zoe é uma mulher que vive com um esposo carinhoso e atencioso, mas, ao mesmo tempo, frio e distante no que diz respeito ao amor erótico. Carente, Zoe acaba se envolvendo amorosamente com seu cunhado. Este, percebendo a fragilidade da esposa de seu irmão, a utiliza para um jogo de vingança. O final surpreendente da trama faz com que Zoe e seu esposo aprofundem seu relacionamento no respeito mútuo e na franqueza. “A Mulher do Meu Irmão” de Ricardo de Montreuil não é somente uma reflexão sobre o significado do casamento e da cumplicidade que pode surgir a partir dele, mas uma afirmação de que a autenticidade e transparência devem ser a base de qualquer relação humana.

Todo ser humano é uma composição particular de elementos, uma soma de sua carga hereditária e das experiências vividas em um determinado cosmos social. Por ser uma formação alquímica única, todo ser humano significa a esperança do surgimento de algo novo. Através de palavras e atos, nos inserimos no mundo humano e entramos em interação com ele. Esta nossa inserção no universo social pode ser considerada um segundo nascimento, no qual confirmamos e assumimos o fato original e singular do nosso aparecimento físico. Na medida em que vivemos, somos modificados pelas relações humanas e acabamos, também, por modificá-las. Apesar do fato de sermos todos os mesmos, isto é, humanos, ninguém é exatamente igual a qualquer pessoa que tenha existido, exista ou venha a existir. Esta santa diferença é uma característica de nossa condição humana e faz com que o universo social seja marcado necessariamente pela pluralidade de pensamentos e principalmente de ações. Esta diversidade de comportamentos nos mostra a associação íntima entre ação e natalidade. O novo começo inerente a cada nascimento pode fazer-se sentir no mundo somente porque o recém-chegado possui a capacidade de iniciar algo novo, isto é, agir. Todo ser humano traz consigo algo de diferente e o expressa através de suas ações. À coerência entre o “novo” de cada pessoa e seu comportamento damos o nome de autenticidade. Esta se torna visível à medida que tomamos consciência de que surgimos neste mundo para sermos felizes e cada ser humano possui o direito a um “lugar ao sol”.

A autenticidade, porém, depende da necessidade que cada ser humano possui em adequar sua forma única de ser, a originalidade de suas ações, com as condições criadas pelas relações humanas, pelo ambiente social. O drama da condição humana constitui-se justamente na dialética entre a individualidade e as influências do meio social, ou seja, entre ser o que somos expressando livremente o “novo” que podemos trazer ao mundo e as expectativas que as pessoas que nos circundam possuem sobre nosso ser e o nosso agir. Como viver a nossa autenticidade e não frustrar as esperanças daqueles que amamos é a questão a ser solucionada por cada ser humano.  Em nossa sociedade a influência social constitui um peso extremo sobre o indivíduo. Antes de tomarmos uma decisão ou assumirmos uma atitude, somos condicionados, desde muito cedo, a nos questionarmos sobre “o que as pessoas irão pensar”. Nos sentimos bem quando vivemos em conformidade com o nosso grupo e, por mais fortes que sejamos, somos tomados por uma sensação de desconforto quando não vivemos de acordo com a maioria, ou seja, com a normalidade. Esta pressão do social sobre o indivíduo, além de ser um desrespeito à individualidade da pessoa humana, contribui para o empobrecimento da vida social, pois sufoca o “novo” com o qual cada pessoa humana poderia enriquecer a vida. Por isso, faz-se necessário que cada um acredite em si mesmo e não se deixe vencer pelo autoritarismo ou pela intolerância de pessoas que já perderam sua autenticidade. A grande aventura de viver é não cair na uniformidade, mas ter a coragem de ser o diferente que, na verdade, somos. Se nos deixarmos vencer, não haverá surpresas, nem alegrias. Afinal, somente buscando a autenticidade podemos realmente iluminar o nosso mundo. Em qualquer relação humana a autenticidade faz com que tenhamos segurança e, apesar das diferenças que podem surgir, nos leva a um exercício de diálogo e respeito mútuo.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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