Jacinta Dantas 1 de julho de 2015

Jacinta sentido

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Em meio à tormenta  (re) sinto a perda. O tráfego  não flui e o congestionamento mostra que o excesso  depaupera o meu espaço. Percebo que não volta o que entra e sinto que meus vizinhos, dentre eles o coração e o estômago, ficam incomodados, estressados, mudam o ritmo e adoecem com o acúmulo. Atordoado, tenho consciência de que o ar  deve trafegar pela via com liberdade de entrar e sair no devido tempo, realizando as trocas com o ambiente. Troca… bonito esse jeito de viver que a vida propõe. Trocar, dar e receber – Inspirar o oxigênio e devolver gás carbônico – simples assim. Tão simples e tão complicado. E complicado se vive em tempos sem sentido. Sentido de quê?

Sou o que sou e ocupo o meu lugar em harmonia com os demais sistemas que sustentam a vida no corpo. Então, sei que também sou o corpo que tem em mim a possibilidade de expansão para o bem viver. No entanto, contraio-me ao ver o jovem, concebido e formado para trilhar o caminho do crescimento e da felicidade, ser agredido numa ação bestial promovida por outro jovem que bate sem ter por quê. De novo, o sentido sentindo a falta. Jovens, meninos ainda, numa reunião de ex-colegas de escola do nível médio, encontram-se para festejar e de repente…

_ Vou bater naquele ali.

E o que se vê é de faltar o ar que me faz funcionar bem. Garrafas quebradas, objetos roubados e o jovem ali, humilhado, sentindo um quê sem sentido a arder-lhe no corpo e na alma. Que conta é essa que não fecha? Que prazer é esse que se tem em agredir? Será esse o único modo de se mostrar vencedor diante do grupo? Mas vencedor do quê?

Na expectativa da falta, agarro-me e guardo o ar que posso, comprimindo-me e oprimindo-me, fechando as saídas. Desesperado, acumulo. Acumulo mais ar, qualquer ar e sinto-me transbordando prá dentro, entornando e envenenando o corpo que me abriga. Em mais uma crise,  tudo fica “ite”, e de novo trava-se a  luta –  de alma e corpo –  contra a tosse, o cansaço, a apatia, a impotência… na incessante busca do sentido da existência.  Será esse o sentido que falta em tempos abundantes de ofertas  de felicidade?

Obs: Imagem enviada pela autora.

 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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