desconfio dos adjetivos.
não confio neles, é tudo.
são fúteis e frágeis
fugidios e furta-cores
mesmo se fortes ou felizes.
prefiro os substantivos.
esses não enganam ninguém!
ah! o nome das coisas…
as coisas são concretas como pedras
mesmo quando abstratas.
pode-se até dar outro nome
às essências. outra língua, uma gíria
uma invenção. mas elas continuam
sendo elas próprias, queira-se
chamá-las pelo nome ou não.
mas vá-se mudar o nome das qualidades…
um palmo para lá, não é mais isto;
um dedo para cá, não está mais
no lugar. entre alegres e tristes,
quantos graus temos? milhões.
já a alegria é única, a tristeza também.
sim, pode-se sentir muita, ou pouca;
mas não existe meia alegria, nem
meia tristeza, nem meia esperança.
e é mentira toda meia verdade.
por isso, deixa-me no mundo das coisas:
substantivos são honestos, fiéis, confiáveis.
adjetivos, não. são impressão
opinião, sensação, traição.
e deles me afasto como de uma miragem.
Obs: Texto retirado do livro do autor – É Lenta a Palavra Tempo –