Malu Nogueira 1 de junho de 2015

2009-01-30_220800

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O tempo parece retroceder às décadas de 1930 e 1940, quando o Sertão do Pajeú foi assolado por uma tremenda seca, que deslocou da terra esturricada seu povo, sofrido e morto de fome. Gente desolada com o descaso que ponteava os dirigentes da época, que não enxergavam a envergadura das alterações climáticas, atingindo, assim, um grande contingente de pessoas, as quais não dispunham dos meios adequados para diminuírem os efeitos da seca.

Muita gente desapareceu em busca de outras paragens, assim como famílias inteiras que venderam suas terras, seu gado e foram tentar a sorte noutros recônditos, onde a seca não os abatessem. Alguns retornaram, outros nunca fizeram o caminho de volta, pois sem grande preparo, não conseguiam recuperar o que gastaram e a solidão fez lugar dentro da alma do caboclo caladão, expulso de seu torrão, à mercê da injustiça social que grassava nas elites dominantes.

Como a população era menor, os estragos talvez tenham sido minimizados, pois quem arribou tinha poucos animais, dizimados pela falta de água e comida. O pasto não existia, porque o sol, bufando de quente, torrava até a vontade de viver do sertanejo, matava a vergonha que o fazia mendigar e aceitar ajuda nessas épocas da escassez de chuvas. Homens intrépidos destruídos pela natureza indomável, normalmente não aceitam acordo com quem se afasta dela ou tece com as mãos a morte de sua mata, maculando a nascente de seus rios, alterando suas paisagens, com queimadas e desnecessárias derrubadas de árvores.

Árvores, que representam o Sertão, como a baraúna e o juazeiro, secam suas folhas e não abrigam do sol os animais e as pessoas, que correm para não serem queimados pelo sol escaldante.

Nos tempos atuais, há mais de nove meses que não chove. As chuvas não caíram, fato atribuído a um fenômeno climático chamado ‘o menino’ ou ‘a menina’. O sol ferve a terra e bebe o que evapora dela. O pouco de água que resta é cuidado como a maior das riquezas e, novamente, a seca joga para longe homens sofridos e com olhar esgazeados, mãos calejadas, rostos cheios de vincos, corpos secos, como seco do leito do rio. As árvores frutíferas morreram, o gado pereceu, e perece também, os pensamentos dos homens atingidos pela seca, deixando na sua boca o gosto das lágrimas derramadas, uma aguinha que ele tenta beber, porém, salobra não lhe serve. Ele, destemido e valente, fraqueja, sem poder tirar da terra o que comer, não podendo saciar a sede que o consome, e curva-se diante da majestade da mãe natureza, que não se comove com o seu sofrimento.

E o homem que vive estas mazelas, conclui que falta vontade política para corrigir os melindres da natureza. Com medidas simples, como desvio de rios, recuperação de mananciais, replantio de árvores e construção de cisternas já ajudam a aplacar o sofrimento do sertanejo.

Isso manteria acesa as cores da mata, com água borbulhante em suas fontes, o curió, o galo de campina e o azulão cantam no alto das árvores, inundando a natureza de alegria e viço, seguindo assim o exemplo de povos que vivem do deserto, como Estados de Israel e da Califórnia.

O sertanejo é teimoso com força: tira leite de pedra batida, come preá e tatu, mas não suporta ser comparado a alguém alienado, distante de seus problemas. Longe deste perfil, há o homem vigoroso, sadio, que aceita o que vem pela frente e se prepara nos dias prósperos para os dias piores, como a chuva que não vingou, o copo d’água, vazio na mão.

Nada envilece esse homem, ao contrário, torna-o forte para a labuta diária, cercado mais uma vez pela estiagem vigorosa, que se abateu sobre sua terra, tentando derrubá-lo. Esmola na estiagem, ele agradece. O que ele quer é trabalho limpo que o livre da fome, da peste e da morte.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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