Um verso: eu o procurava.
Se não um verso completo
desses que alumiam, alumbram
encantam e a gente baba,
desses que a gente morde
feito um pedaço de pão,
ao menos verso possível
desses que se põem no bolso
como se fosse uma chave.
Se não fosse verso unânime
dos que arrebatam a alma,
ao menos um verso humilde
como se fosse um chapéu
já muito usado e puído,
como se fosse a metáfora
em vias de desbotar:
E por que procurar versos?
(dizia alguém, homem prático).
E por que ouvir estrelas,
por que ser pastor de nuvens?
Não sei, respondia eu,
não sei por que, nem pra quem.
Sei que procuro esse verso
como fosse inevitável,
sem pensar se ao achá-lo
a vida vai ser melhor,
a dor que existe acaba.
Penso só em encontrá-lo
como um vaqueiro vareja
todo o campo do sertão
atrás de rês desgarrada.
Como se fosse o graal
perdido em tempos antigos
e eu, cavaleiro andante.
Ou como se fosse um vinho
muito raro, de tal safra
que aquele que o provasse
cresse em bem-aventurança
Obs: Texto retirado do livro do autor – É Lenta a Palavra Tempo –