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Começo a me preocupar comigo mesmo. Sério. A verdade é que estou a perceber que há um problema a se alastrar. Ainda não consultei nenhum médico, mesmo porque não sei quem deveria procurar. Sei que, de dez sonhos tidos, apenas de um consigo me lembrar. Um, só, para fazer remédio e mais nada. Os demais se perdem nas galáxias da mente, porque não me fica nenhuma imagem. Que sonhei,  nenhuma dúvida. Certeza absoluta. O que me esvai é o sonho em si, as imagens, a cena, o sonhado em seu epicentro, planalto e planície.

O que me angustia é que gosto do sonho, ficando, no dia seguinte, a meditar sobre ele, na busca do significado, ou da mensagem. Sonhos alegres que me deixam anestesiado, sonhos com entes queridos que se foram, que interpreto como contatos, sonhos de passar por uma situação de perigo, querer gritar e da boca não sair um só som, e aí o alívio ao me acordar, ou sonhos que me levam de volta a ambientes já vividos, como se fosse um morto que não quer ser enterrado. Felizmente, o sonho de me submeter a uma prova na faculdade e não ter a menor noção nem do ponto a ser explorado,  já não me habita mais o sono. A  aflição era grande, eu, com o diploma na mão, ainda passando aperto em provas já realizadas, como se constituísse numa advertência a algum desleixo no curso jurídico realizado.

Reconheço que não saber o que sonhei, apesar de todo esforço para tentar ressuscitar o sonho, me incomoda como o quê. Mas, não tem solução aparente. Tudo é deletado e da tela, onde as cenas se passaram, nada resta senão o vazio do cérebro, que não conservou a menor imagem. Defeito da idade? Talvez. Os janeiros que chegam, os janeiros que se tornam menores, o caminho da vida que vai encurtando à medida que os anos passam, tudo se alia e se combina para apagar da memória o sonho processado, ou para não deixar que o cérebro conserve a menor imagem.

Possa ser que me receitem algum remédio para deixar pregado na mente o sonho vivido. Oxalá. Se não for possível, termino colocando um anúncio nos classificados no sentido de comprar sonhos. Quem sabe se não encontro quem me vendê-los possa. Preço a combinar.

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Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras
Obs: Publicado no Diario de Pernambuco

 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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