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A América Latina é considerada o maior centro cristão católico do planeta. O cristianismo foi implantado basicamente pelos missionários ibéricos, sob a influência direta do Concílio de Trento, mais doutrinário do que evangélico.
No Brasil, como certamente em toda a América do sul e a central, prevaleceu uma catequese salvacionista, sem o anúncio da Boa Nova de Jesus, gerando assim uma religiosidade moralista, mais do que misericordiosa. Tal cultura até hoje gera sofrimentos, dores e medo do inferno. É um conflito de consciência entre a doutrina inculcada e a realidade hoje bem distinta da contra reforma do tempo da colonização. A realidade da família hoje é outra.
Falam estatísticas que no Brasil, de cada 10 matrimônios realizados em um ano, seis são rompidos antes de completar cinco anos. Para os católicos essa realidade é angustiante e motivo de sofrimentos de consciência.
Há alguns dias, após a santa missa chegou um homem de 68 anos ao padre. Com olhar meio suplicante, disse que estava separado de sua primeira esposa há 30 anos e há 25 anos vive bem com sua segunda esposa. É católico, participa da comunidade, participa da santa missa, mas sofre ao ser privado de receber a hóstia consagrada. Pedia uma luz do padre que fizera uma homilia estimulante sobre a afirmação de Jesus Cristo, de que não fomos nós que o escolhemos como amigo, mas ele que nos escolheu. E que se produzirmos frutos duradouros seremos seus amigos.
Como orientar aquele homem de fé e em conflito pela catequese que recebeu? Depois do Concílio de Trento já vieram outros concílios, já veio o Papa João XXIII, O concílio Vaticano II e agora o Papa Francisco, que acaba de convocar um sínodo justamente para tratar da questão família e do segundo casamento, entre outras questões afins. Resposta dada ao suplicante senhor de 68 anos, há 25 anos com sua nova esposa: “amigo, Jesus criou a hóstia consagrada para os pecadores que se esforçam para seguir o mandamento dele, não foi para os puros. Vá e comungue e cuide bem da sua esposa, dos filhos e da comunidade”. Ela chegou perto dele, ouviu a resposta e os dois saíram contentes da vida, pois a partir de então se sentiam novamente amigos de Jesus.
O mundo hoje é outro da época tridentina, vivemos uma mudança de época e a presença do Papa Francisco latino americano, é um dos fortes sinais da mudança de época. Ele é mais pastor do que Papa, com mais misericórdia do que com doutrinas certinhas. Os cristãos da América latina tem muito que se alegrar, pois o Evangelho volta a ter mais peso de consciência do que as leis e regras disciplinares. O sábado foi feito para o homem e não o contrário, dirá Papa Francisco.
Para aliviar consciências pesarosas com a do homem de 68 anos em segundo casamento, é urgente que bispos, padres e catequistas passem por um urgente processo de evangelização e se espera que o resultado do próximo sínodo convocado por Francisco apresente caminhos novos, mais evangélicos do que normas canônicas.
Obs: Coordenador da Comissão Justiça e Paz da Diocese de Santarém (PA) e membro do Movimento Tapajós Vivo.
Autor dos livros: Amazônia: o que será amanhâ? (Vol I e II) e Uma revolução que ainda não aconteceu