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 No contexto da última Ceia, São João em seu Evangelho diz que, a certa altura, Jesus levantou da mesa, tirou o manto, cingiu-se com uma toalha e passou a lavar os pés aos discípulos. A seguir proferiu o grande discurso de despedida, como é conhecido e cujo conteúdo era direcionado à formação imediata dos discípulos. E com estas palavras Jesus concluiu seu ensinamento: “Eu vos disse estas coisas para que, em mim, tenhais a paz. No mundo tereis aflições. Mas tende coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16,33). Jesus sabia o quanto era importante naquele momento encorajar e consolar os discípulos que, além da tristeza que estavam experimentando, entendiam muito pouco daquilo que Jesus falara e fizera.

Após essas exortações encorajadoras, Jesus, compreendendo que chegara a sua hora, a hora da glória, inicia a grande oração com estas comoventes palavras: “Esta é a vida eterna: que conheçam a ti, o Deus único e verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que enviaste” (Jo 17,3). Era o momento cruciante de sua vida. Naquele momento toda a sua alma transbordava ao Pai e aos seus discípulos. Uma profunda comoção tomava conta de Jesus e, por que não dizer também, dos discípulos?

É tão inspiradora a atitude de Jesus. Ele levanta os olhos para o alto, contempla o céu e pede com toda sua alma: “Pai, glorifica o teu Filho!” Como me impressiona e creio que impressiona também a você o fato de que Jesus, nessa oração, não diga nada sobre a paixão, sobre os sofrimentos que se aproximavam. Ele contempla e menciona apenas a vitória, conseqüência da doação de sua vida. Portanto, a cruz que era um sinal de fracasso, torna-se sinal de vitória. Assim cremos e cantamos: “Vitória, tu reinarás! Oh cruz, tu nos salvarás!”

Jesus, com profunda consciência, mencionou em sua oração aquilo que foi a razão de sua vida: “Manifestei o te nome… […] realizei a obra que me deste para fazer” (cf Jo 17). Aqui podemos contemplar Jesus como aquele que quis, em tudo, realizar a vontade do Pai. Como seria consolador para nós se, no final de nossa vida aqui nesta terra, pudéssemos dizer como Jesus: manifestei teu nome, realizei a obra que me foi confiada.

Após a conclusão dessa oração, pela qual Jesus confia ao Pai, o futuro dos seus discípulos ele vai para o Jardim das Oliveiras, do outro lado da torrente do Cedron, onde começa sua agonia. E aquele que antes havia rezado: “manifestei teu nome…”, agora vai rezar de maneira totalmente diferente. Cheio de angústia pelas perspectivas da paixão iminente, de joelhos, ele suplica: “Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua!” (Lc 22,42).

O que essa oração diz para você neste momento de sua vida? Certamente a mesma coisa que diz para mim. Cristo não queria dar a impressão de ser um “super homem”, mas um homem que aceita a condição humana marcada pelo medo, pela timidez, como todos nós. Homem parecido conosco em tudo, exceto no pecado.

Obrigado Jesus! Ajuda-nos a identificar-nos contigo, nós que tantas vezes somos tão auto-suficientes e prepotentes, e esquecemos tuas palavras tão consoladoras a nos dizerem que sem ti não podemos fazer nada.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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