Lug Costa 1 de maio de 2015

Parem de colocar Cristo nessa cruz decorativa,

ostentada em milhares de templos religiosos,

e de ficarem se sentindo participantes dessa encenação macabra,

como atores principais, coadjuvantes e figurantes,

que chorando e tristes, numa sexta-feira da Paixão,

procuram os culpados de ontem e de hoje

para não se sentirem os traidores do Mestre.

Porque o queremos imobilizado e sangrando numa cruz?

Que não profetize mais?

Que não denuncie a maldade humana?

Que não se coloque do lado do pobre, do injustiçado?

Que não derrote a maldita morte e seus algozes autorizados?

Basta de tanto sangue jorrando no chão

e nas milhares de cruzes no sertão e na cidade!

Que caiam de nossos olhos lágrimas de arrependimento e conversão.

Já não mais te pedimos, Mestre, que ressuscite dos mortos,

porque o que sabemos da vida?

da dignidade da pessoa humana?

do sofrimento, da dor, do abandono?

para te pedir que ressuscites ao terceiro dia?

Espere mais um pouco, Mestre,

até que entendamos de novo que só pode ressuscitar

quem for capaz de destruir

a fome,

a miséria,

a exploração,

as injustiças,

a corrupção,

a falsidade,

as desigualdades sociais,

os preconceitos,

a morte em si mesmo.

Crucificamos tantos,

matamos tantos,

perseguimos tantos,

desprezamos tantos,

torturamos tantos,

e esperamos o dia do jejum,

com o rosto hipócrita, desfigurado piedosamente,

para nos escandalizarmos e nos revoltarmos

com a crucifixão do jovem de Nazaré.

Mas no silêncio da nossa consciência, gritamos:

Crucifica-o! Crucifica-o! Crucifica-o!

E pior: nos julgamos ternos, inocentes,

merecedores da remissão dos pecados

e do banquete dos eleitos do Pai.

Deixe, Mestre, o túmulo continuar vazio

porque mais vazios de esperança, de fé, estamos nós.

Sentados à beira do túmulo,

ansiosos pela manifestação do grande e definitivo milagre,

após o terceiro dia de espera,

estão milhares e milhares de teus seguidores.

A paixão mais cruel que atormenta o coração humano

é quando ele crucifica no seu coração outro ser humano,

com a certeza que este ser jamais foi filho, filha de Deus.

Que ninguém mais necessite subir ao Calvário nesta noite tenebrosa

para ver o Crucificado dá o último suspiro,

mas que todos corram à planície

para a grande festa da irmandade

onde homens e mulheres, de todas as raças, línguas e nações,

se encontraram com o Mestre,

e dançarão alegremente o canto da fraternidade universal:

“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. A única e verdadeira Ressurreição!

 

(03.04.2015  – Caxias/MA) Sexta-feira da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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