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Esperar melhoria de qualidade de vida das populações, por parte dos poderes públicos e políticos está muito difícil, quase uma ilusão. Não se pode hoje contar com a democracia brasileira, que só funciona na hora de votar. Isso acontece desde os níveis, federal, estadual e o municipal. Quem decide a vida dos brasileiros hoje é  a ditadura do capital, que controla tanto os poderes, executivo e legislativa, como o judiciário.

O termômetro desta realidade pode ser o atual cabo de guerra travado entre o tal ajuste fiscal do governo federal e a resistência dos caminhoneiros lá no sul do país. O governo federal impõe regras que prejudicam as vidas das famílias, inclusive dos milhões dependentes do bolsa família, que o próprio governo afirma ter tirado da miséria; aumenta a tarifa da energia elétrica, sobe o preço dos combustíveis, corta direitos trabalhistas. Com isso sobem os preços das mercadorias e provoca desemprego por todo canto. Com a inflação subindo, arrocha a renda familiar. A conjuntura nacional é de incertezas e as consequências negativas são certas na população.

Aqui na região Oeste do Pará não é diferente quanto aos impactos. Estes se agravam, ampliados pelas incompetentes administrações municipais, ampliadas por corrupção em alguns municípios. As Câmaras de Vereadores estão submissas aos prefeitos, raros são os vereadores que assumem seu real papel de fiscalizadores dos prefeitos.

A cidade de Santarém é um dos exemplos do abandono das autoridades nas graves questões que se impõem sobre a sociedade. Sem listar toda a ladainha de situações da crise social e administrativa da cidade, eis dois exemplares:

  1. o tal projeto habitacional minha Casa Minha Vida, desastre de engenharia, de administração e ambiental, culminando com o desrespeito à dignidade de quem for apontado para morar ali naquelas casinhas de cachorro. Como é possível gastar dinheiro público para construir mais de três mil casas, num terreno inadequado, sem arborização, sem espaços de ampliação das casinhas? Como pode o governo deixar acontecer aquela desgraça sem fazer uma fiscalização da obra? Como a Caixa Econômica liberou os recursos, em nome do governo federal e não acompanhou as obras?
  2. o caos administrativo é o novo projeto de construção de novos portos na periferia da cidade, bairro Área Verde e boca do Maicá. Representantes das empresas interessadas na implantação dos portos procuraram o prefeito, que solícito logo garantiu construir infraestrutura de avenidas para o transporte das carretas com soja vindas do Mato Grosso. Sete bairros serão afetados pelas vias de acesso aos portos, moradores deverão ser retirados sem justa indenização, com alegação de não terem propriedade legalizada. Diante de pequena resistência de alguns moradores, pessoas das empresas tentaram aliciar líderes de associações com algum dinheiro. Em recente reunião foi publicada a doação de dinheiro, sem que os receptores tenham explicado como foram aplicados os tais donativos, uma forma de cala boca para as obras iniciarem.

Esses dois exemplos ilustram como anda a cidade entregue nas mãos de interesses empresariais, sem que a população seja consultada. Diante desse trágico quadro, aparece a passividade das organizações populares, sindicatos, Colônia de Pescadores, organizações religiosas, tanto católicas, quanto protestantes. Raros são os movimentos que se animam a resistir a tanta opressão social e ambiental. Alguns pequenos grupos que tentam ir contra  o projeto de destruição do rio Tapajós, não encontram suficiente apoio e adesão. Alguns outros movimentos, ou agem apenas diante de casos pontuais, como a jacina da família no bairro, ou são politiqueiros. As causas que atingem a toda a sociedade não encontram manifestações coletivas.

Onde estão as federações de associações de moradores? Onde os estudantes universitários e de ensino médio? Onde estão as CEBs, Cursilhistas, Renovação carismática? Onde estão as marchas para Cristo? E onde estão os políticos da região que não organizam atos públicos contra as agressões aos direitos humanos da coletividade? Sem a ação estratégica desses grupos, organizações populares e igrejas o caos vai continuar e agravar. A democracia  será apenas para as oligarquias.

 Obs: Coordenador da Comissão Justiça e Paz da Diocese de Santarém (PA) e membro do Movimento Tapajós Vivo.

Autor dos livros: Amazônia: o que será amanhâ? (Vol I e II) e Uma revolução que ainda não aconteceu

 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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