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O oprimido enfrenta os corruptos ontem e hoje
Memória da Paixão de Cristo

  1. Fazer memória é perceber no presente, algo ou alguém que existiu no passado e continua de alguma forma presente hoje. Cada ano, os cristãos tentam fazer memória da paixão de Cristo. Nem sempre conseguem quando ficam apenas nas lembranças e nos rituais. Paixão é palavra ligada ao verbo APAIXONAR. Esta palavra tem forte sentido afetivo de se entregar por amor a alguém.
  2. No caso da paixão de Cristo temos que olhar bem, tanto o apaixonar, como o fazer memória. Jesus Cristo se apaixonou pelas pessoas, pelos discípulos, suas amigas, os e as que ele encontrava nas ruas e beiras do lago, como todas as pessoas do seu  tempo e de hoje. Ele assumiu sua paixão até o ponto de enfrentar os opressores que mantinham as multidões na servidão, tanto religiosa, como econômica e política.  Por conta de sua paixão compreendeu que seu povo era como ovelhas sem pastor e também por essa paixão  enfrentou a tortura e morte de cruz. Tanto se comovia com o aleijado à beira da piscina milagrosa, com a sogra de Pedro estava com febre alta, como também perdeu a paciência com os donos do templo que faziam comércio na Casa do Pai. A tal ponto chegou sua paixão apaixonada que enfrentou a tortura e a condenação à morte cruel pela cruz.
  3. Mas a paixão de Cristo não encerrou na sexta feira da paixão, nem mesmo ao sair do túmulo no domingo pela madrugada. Ela continua se prolongando hoje … MÚSICA: Seu nome é Jesus Cristo  e passa fome… Não podemos fechar os olhos e pensar que tudo está consumado. Não se pode apenas repetir as cerimônias da via sacra, se comover com as leituras da paixão deixadas pelos evangelistas e continuar a rotina da vida. Ao fazer memória é necessário se fazer a pergunta – valeu a pena a paixão de Cristo? Valeu mesmo ele ter ressuscitado ao terceiro dia? Da parte dele certamente que sim, ele fez sua parte.
  4. No entanto, ao fazer memória vai se perceber imediatamente que a paixão de Cristo continua hoje no mundo, no Brasil e seguramente na Amazônia. A coroa de espinhos continua sangrando na cabeça de Jesus, quando vemos a quantidade de agrotóxicos espalhada nas terras do agronegócio, envenenando rios, igarapés e roçados. Os pregos nas mãos e pés de Jesus continuam a machucar hoje, quando 14 milhões de famílias no Brasil, 27 mil delas só no município de Santarém, vivem na miséria conferida pelo programa Bolsa Família; as chicotadas dos soldados se repetem hoje de tantos modos, como com a falta d’água em tantas cidades, inclusive em Santarém e em comunidades rurais que não têm água potável. Jesus continua arrastando  a madeira da cruz quando hoje autoridades públicas não assumem suas responsabilidades com educação de qualidade, mantendo escolas multi seriadas, invasão de carretas pelas ruas e avenidas da cidade, sem cuidado com as vidas humanas expostas a acidentes. Jesus Continua pendurado no madeiro e gritando abandonado quando tantos cristãos de todas as igrejas só cuidam de sua própria salvação e não atendem as necessidades dos que sofrem opressões. Quando igarapés estão morrendo por assoreamento e poluição, quando hidroelétricas são construídas nos rios da Amazônia, quando empresas destroem a região extraindo minérios, Jesus está pedindo água pois tem sede e lhe dão vinagre.
  5. A paixão de Cristo se prolonga hoje no  mundo, no Brasil e na Amazônia  de modo particular. Mas o apaixonado Jesus também continua  amando seu povo e esperando que seus seguidores se deem conta que sua responsabilidade é representá-lo  hoje na sociedade, cuidando dos oprimidos e denunciando a corrupção, os maus administradores  dos bens públicos e abrindo os olhos dos que ainda estão cegos para a realidade dos oprimidos que precisam de quem lhes dê a mão.

 Obs: Coordenador da Comissão Justiça e Paz da Diocese de Santarém (PA) e membro do Movimento Tapajós Vivo.

Autor dos livros: Amazônia: o que será amanhâ? (Vol I e II) e Uma revolução que ainda não aconteceu

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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