1 de maio de 2015
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O oprimido enfrenta os corruptos ontem e hoje
Memória da Paixão de Cristo
- Fazer memória é perceber no presente, algo ou alguém que existiu no passado e continua de alguma forma presente hoje. Cada ano, os cristãos tentam fazer memória da paixão de Cristo. Nem sempre conseguem quando ficam apenas nas lembranças e nos rituais. Paixão é palavra ligada ao verbo APAIXONAR. Esta palavra tem forte sentido afetivo de se entregar por amor a alguém.
- No caso da paixão de Cristo temos que olhar bem, tanto o apaixonar, como o fazer memória. Jesus Cristo se apaixonou pelas pessoas, pelos discípulos, suas amigas, os e as que ele encontrava nas ruas e beiras do lago, como todas as pessoas do seu tempo e de hoje. Ele assumiu sua paixão até o ponto de enfrentar os opressores que mantinham as multidões na servidão, tanto religiosa, como econômica e política. Por conta de sua paixão compreendeu que seu povo era como ovelhas sem pastor e também por essa paixão enfrentou a tortura e morte de cruz. Tanto se comovia com o aleijado à beira da piscina milagrosa, com a sogra de Pedro estava com febre alta, como também perdeu a paciência com os donos do templo que faziam comércio na Casa do Pai. A tal ponto chegou sua paixão apaixonada que enfrentou a tortura e a condenação à morte cruel pela cruz.
- Mas a paixão de Cristo não encerrou na sexta feira da paixão, nem mesmo ao sair do túmulo no domingo pela madrugada. Ela continua se prolongando hoje … MÚSICA: Seu nome é Jesus Cristo e passa fome… Não podemos fechar os olhos e pensar que tudo está consumado. Não se pode apenas repetir as cerimônias da via sacra, se comover com as leituras da paixão deixadas pelos evangelistas e continuar a rotina da vida. Ao fazer memória é necessário se fazer a pergunta – valeu a pena a paixão de Cristo? Valeu mesmo ele ter ressuscitado ao terceiro dia? Da parte dele certamente que sim, ele fez sua parte.
- No entanto, ao fazer memória vai se perceber imediatamente que a paixão de Cristo continua hoje no mundo, no Brasil e seguramente na Amazônia. A coroa de espinhos continua sangrando na cabeça de Jesus, quando vemos a quantidade de agrotóxicos espalhada nas terras do agronegócio, envenenando rios, igarapés e roçados. Os pregos nas mãos e pés de Jesus continuam a machucar hoje, quando 14 milhões de famílias no Brasil, 27 mil delas só no município de Santarém, vivem na miséria conferida pelo programa Bolsa Família; as chicotadas dos soldados se repetem hoje de tantos modos, como com a falta d’água em tantas cidades, inclusive em Santarém e em comunidades rurais que não têm água potável. Jesus continua arrastando a madeira da cruz quando hoje autoridades públicas não assumem suas responsabilidades com educação de qualidade, mantendo escolas multi seriadas, invasão de carretas pelas ruas e avenidas da cidade, sem cuidado com as vidas humanas expostas a acidentes. Jesus Continua pendurado no madeiro e gritando abandonado quando tantos cristãos de todas as igrejas só cuidam de sua própria salvação e não atendem as necessidades dos que sofrem opressões. Quando igarapés estão morrendo por assoreamento e poluição, quando hidroelétricas são construídas nos rios da Amazônia, quando empresas destroem a região extraindo minérios, Jesus está pedindo água pois tem sede e lhe dão vinagre.
- A paixão de Cristo se prolonga hoje no mundo, no Brasil e na Amazônia de modo particular. Mas o apaixonado Jesus também continua amando seu povo e esperando que seus seguidores se deem conta que sua responsabilidade é representá-lo hoje na sociedade, cuidando dos oprimidos e denunciando a corrupção, os maus administradores dos bens públicos e abrindo os olhos dos que ainda estão cegos para a realidade dos oprimidos que precisam de quem lhes dê a mão.
Obs: Coordenador da Comissão Justiça e Paz da Diocese de Santarém (PA) e membro do Movimento Tapajós Vivo.
Autor dos livros: Amazônia: o que será amanhâ? (Vol I e II) e Uma revolução que ainda não aconteceu
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.
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