Djanira Silva 31 de dezembro de 2011
          Quando jovens, vivemos por antecipação – é o vestido para a próxima festa, a viagem sonhada, projetos de vida os mais mirabolantes.
          O tempo passa e com ele as inconsequências da juventude, as crenças exacerbadas na felicidade, momentos em que o imaginário se apossa da consciência fazendo-nos acreditar num mundo mal começado.
          A velhice chega e dá o golpe de misericórdia, Carrasco cego executa sua missão. Tentamos recolher os restos mortais dos sonhos e dos desejos que se desfizeram com o tempo ou se desintegraram com as decepções.
          A princípio o futuro é um presente dos sonhos que nos acena com o que desejamos realizar. Daí por diante, o passado será sempre presente.
          Rolam e giram os ponteiros, não precisamos deles, eles passam sem nós. Perseguem, no entanto, nossos passos.
          Quando sentimos saudade, exumamos o passado. As emoções nele contidas nunca mudarão. Ameaçador, o futuro avança para se destruir na realidade do agora, se enterrar na angústia do passado, das esperanças, numa metamorfose da saudade. Como um refúgio corremos para trás, voltamos, não para sonhar mas para nos vermos dentro do sonho. Tentamos enfrentar a morte que vem chegando disfarçada de velhice. Então, sofremos de um medo terminal do futuro porque já não temos como construir saudades, apenas senti-las.
          Num acesso de bom senso, resolvo viver o momento. Quero me livrar da síndrome do futuro. Encontro no agora, o porto seguro, a certeza o consolo de que viver o presente é uma fórmula que ajuda a esperar a morte.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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