“Assim somos, acontecimentos da mesma matéria, barro moldado ao longo de estradas e aprendizados.”
E continuamos juntos como molejo do destino. E por continuarmos juntos, podemos sonhar juntos: algumas pétalas, alguns tropeços. Nosso sentido é caminhar.
Nem todos prosseguiram conosco: uns partiram; uns não voltam; outros, saudade. É o exercício da vida a derramar em nossos olhares o renovar, o renovar-se.
Sigamos juntos a solidificar o destino por estarmos juntos. E juntos ajudemos a saciar a sede e a fome dos que carregam a sede e a fome.
Brindemos e entoemos cânticos em louvor ao que mais de humano temos em nós, ao que nos aproxima das divindades. Façamos festas nos menores lares, nas pequenas praças, nos lugarejos mais ermos, nas cidades esquecidas e em cada um de nós.
Busquemos os gestos. E se o gesto se faz, a mão se estende. Assim somos, acontecimentos da mesma matéria, barro moldado ao longo de estradas e aprendizados. Sigamos a compartilhar nossos desalentos e sorrisos, nossas forças e tropeços. Aprendamos os passos: se um desafina, ele afinará conosco os instrumentos para o próximo concerto. Somos nós a contar a história, a fazê-la.
Se a mão se estende, o gesto se faz. Feitos do mesmo sonho, matéria de nosso barro, do pó da estrada. Compartimos o que restou de nossas fraquezas. E nossas vozes já afinadas entoam loas ao que somos, ao que podemos ser. Organizemos as festas, ocupemos os palcos.
Mão e gesto se fundem e a estrada somos nós a cantar, a sorrir, a moldar o barro de nosso existir. Tropeçamos juntos, mas também nos erguemos unidos. É de outra matéria que somos feitos, dos corações pungentes, dos capazes de renascer.
Permaneçamos próximos. E que os tempos só reafirmem o viço das mãos que se estendem e são o gesto. E o nosso continuar se torne um reencontro com todas as possibilidades do ser, da leveza de ser e estar. Juntos.