Djanira Silva 7 de novembro de 2011
          Abri a janela e vi, numa brincadeira de esconde-esconde, a estrela brilhando trás da torre da Igreja. Éramos crianças.
          Nem precisava anoitecer, bastava o dia se esconder nas sombras para que ela aparecesse como se tivesse fugido do céu para brincar no firmamento feito eu escapava dos limites de casa para brincar na rua.
          A gente conversava apenas com os olhos, pois é assim que se entendem crianças, num pisca-pisca, num código que somente elas e estrelas sabem. Quando eu estava triste escondia-se nos meus olhos úmidos. Estes dias envelheciam mais cedo e ficávamos à espera de que minha alma se acendesse novamente para que ela voltasse a vadiar no céu e eu aqui na terra.
          Lembranças assim não se apagam mesmo que o tempo passe, mesmo que a gente passe, mesmo que a vida esmoreça. Estarão sempre na alma, poderão até perder o brilho, não perderão a força porque são saudades.
          Eu nada sabia de estrelas nem do prazer de esperar alguém na janela. Uma noite, enquanto minha mãe rezava junto da minha cama, perguntei: mãe, para que servem as estrelas e como é que se seguram lá em cima? Ela não sabia, e, com seu jeito especial de me ensinar o mundo tentou: acho que servem para enfeitar o céu como as flores enfeitam as plantas e os frutos enfeitam as árvores e Deus as segura feito eu seguro na sua mão para você não cair. Elas também amadurecem? Não sei menina, deixa as estrelas em paz.
          Então, por minha conta, aprendi a vê-la a ouvi-la feito o outro que ouvia e entendia estrelas.
          Um dia, eu quis conhecer os mistérios do mundo e da minha alma que ameaçava crescer. Fechei a janela, abri a porta. Ela sumiu.
          Ainda sinto saudades da menina que era dona de uma estrela.
Obs: Texto retirado do livro da autora – Pecados de Areia –
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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