O criador do Vaticano II, hoje Beato João 23, acolhendo o Cardeal Montini no Palácio Apostólico durante a 1a sessão do Concílio, já moribundo, disse profeticamente ao cardeal de Milão: “Confio-lhe a Igreja, o Concílio, a paz.” Pouco depois, a 21 de junho de 1963, num brevíssimo conclave de 36 horas, João Batista Montini, aos quase 66 anos de idade, era eleito Papa e tomava o nome, que há três séculos não se usara mais na sucessão petrina. O nome de Paulo era para ele uma referência programática para seu pontificado, destinado a ver a Igreja com as luzes do Concílio, abrindo-a ao mundo moderno. Era a pesada herança que lhe deixava o “Papa bom”, do qual ele diria a 26 de setembro de 1963, no discurso de abertura da 2a sessão do Concílio: “Ó querido e venerado Papa João! Seja-te tributada honra e louvor, já que por inspiração divina convocaste este Concílio!”
          Nascido em Brescia aos 26 de setembro de 1897, João B. Montini fora aluno dos jesuítas mas, por motivo de saúde, fez de maneira privada seus estudos de filosofia e teologia, para se ordenar sacerdote na mesma Brescia em 1920. Em Roma, obteve a láurea de filosofia e direito canônico, passando a trabalhar em várias funções da Cúria Romana de 1924 a 1939, até a eleição do Papa Pacelli. Tornou-se, então, colaborador direto de Pio XII, com o título de “Substituto da Secretaria de Estado”, estranho cargo, que ele conservou até 1958, mesmo após a morte do Secretário de Estado, Card. Maglione, em 1944. Dizia-se, na época, que Pio XII era Secretário de si mesmo, auxiliado por Montini. Em ’58, Pio XII enviou-o a Milão, como arcebispo da principal diocese da Itália, para talvez prepará-lo como pastor para o supremo pontificado, longe da burocracia vaticana, que ambos conheciam como ninguém…
          Como Papa, escreveu sete encíclicas, duas dedicadas a Nossa Senhora, a quem dedicava terna e filial devoção, dando-lhe o título de “Mãe da Igreja”. A primeira encíclica, programática de seu pontificado de quinze anos, foi a Ecclesiam Suam , de 6 de agosto de ’64, na qual tratava da relação da Igreja com o mundo contemporâneo. As demais, escritas por ele próprio à mão, trataram da doutrina social cristã, da teologia eucarística e da moral. Nesse ponto, a mais famosa (e controvertida) foi a Humanae Vitae sobre o controle artificial da natalidade. Patrocinada por alguns teólogos, surgira na época – final dos anos ’60 e início dos anos ’70 – na fase aguda do pós-Concílio, a teoria do “dissenso”, isto é, o direito de discordar da Igreja institucional. Paulo VI proclamava com vigor que na Igreja algumas coisas, fruto da sedimentação histórica, podem mudar, não, porém, a substância da fé. Para isso, promulgou, em 29 de junho de 1968, uma solene e completa profissão de fé, que ficou sendo chamada o “Credo de Paulo VI”.
          Alguém o chamou, em italiano, ao invés de Paolo sesto, “Paolo mesto” (triste). Sua fisionomia, quase sempre pensativa, fez um bispo perguntar-lhe, algo indiscretamente: ”Santidade, o senhor não ri nunca?” Ele respondeu: “E por que o haveria de fazer?”
          Foi o novo Paulo das primeiras peregrinações apostólicas de um Papa pelo mundo: 1964, na Terra Santa com um encontro com o Patriarca Atenágoras; 1965, na ONU, mensageiro da paz, (instituiu o Dia Mundial da Paz para o dia 1o de janeiro), depois Fátima, Istambul, Bogotá (para abrir a Conferência de Medellin), Genebra, Uganda e Extremo Oriente: Iran, Paquistão, Filipinas, Samoa, Austrália, Indonésia, Hong-Kong e Sri Lanka.
          Homem de coração imenso, que guardava consigo um grave respeito ao mistério, foi recebido na Pátria celestial, para contemplar na eternidade o rosto transfigurado do Senhor Jesus, no dia 6 de agosto de 1978, festa da Transfiguração do Senhor.
         Por isso, neste ano estamos comemorando os 25 anos de sua entrada na Pátria celestial.
* É arcebispo emérito de Maceió.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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