Betto Santos 14 de novembro de 2011
Não acredito em horóscopo. Não acredito também em coisas materiais. Minhas descrenças são tão normais quanto às de qualquer cidadão do século vinte e um.
Estava tudo combinado, iria ao apartamento da Lurdes comer a sua famosa torta de espinafre. E foi lá que o problema aconteceu:
-Tente entender, Jorge.
Olhei pra trás pra ver com quem Lurdes estava falando; comigo não era. Meu nome é Horácio, ou coisa parecida.
-Que houve? Perdeu algo?
-Quem é Jorge, Lurdes?
Aí foi a vez dela de se apalpar e olhar para todos os lados do apartamento:
-Jorge é você. Mas Lurdes quem é?
Então nós dois olhamos para todas as arestas do cubo. Cubículo, cubo, cubano. Surpresa! De repente não era mais um apartamento, tampouco AP, tampouco abreviação semelhante. Era um cubo. Eu não era mais Jorge, nem sabia se havia sido algum dia, era um cubano – como o charuto – magro (de fato), bronzeado, e com um chapéu de palha. Lurdes era alguém; ainda tentava acreditar nisso. Mas, contudo, todavia, entretanto, porém, e, aliás: Lurdes nem era Lurdes, tampouco era gente. Era holograma. Isso explicou o brilho nos olhos dela, pensei que era amor, era tecnologia.
-Três dimensões para Jorge, o cubano!
As palavras saíram de mim, mas não pela boca, e sim pela garganta. Dei-me um tapa e com muito esforço falei:
-Três dimensões para Horácio, o cubano! – cubano eu era, e nada podia fazer sobre isso; mas Horácio minha mãe que pôs.
Uma dimensão era de mentiras; outra, era de confusão. A última não era de nada, mas, se não fossem três não seria 3D; entretanto, tinha uma torta, de espinafre, e, famosa. Comeu metade. Poucas calorias, pois não sabia que Fidel tinha morrido e cuba agora era cuba-libre..
No cubículo tinha TV. No Brasil surgiam mulheres, com codinome de: melancia, jaca, melão. Em cuba agora tinham a: mulher rúcula, mulher alface, e a mulher amendoim.
Horácio estava enlouquecendo. Estava sendo atacado por milhares de marimbondos, ligou para Fidel; não-morto Fidel, e perguntou: Fidelito, e agora? A resposta nunca veio.
Jorge era Horácio. Lurdes era falsa. O erro? Ter começado essa história.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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