Raimundo Correia faria outro poema sobre as pombas se tivesse a oportunidade de se deparar com tantos pombos na Praça Rodolfo Fernandes, em Mossoró. Não seria mais a apologia do lá se vai uma pomba, mas de sua fixação, em número de centenas, na pequena praça, na arquitetura de vôos rasantes em busca dos platibandas das casas comerciais que a cercam, ou no passear no conjuntural cadenciado no seu piso.
          Fica fora do cenário o estrago que tanto pombo pode causar, e causa, nos telhados lindeiros. Não faz muito, no prédio da Justiça Federal, na rua de Estância, em Aracaju, o forro de uma sala de audiência desabou premido pelo peso de fezes deixadas cair pelos pombos. Na sede nova, eram utilizadas mangueiras potentes para limpar as paredes, sobretudo onde havia espaço permitindo aos se abrigarem do sol e da chuva.
          Nada sei acerca do estrago que os pombos da Praça Rodolfo Fernandes provocam. Fica a resposta para os comerciantes ali alojados. De minha parte, os olhos foram feitos só para apreciar a beleza de centenas de pombos passeando e voando, alimentados por mãos caridosas que trazem milho diariamente.
          Contudo, Mossoró é muito mais que uma praça onde os pombos fazem pousada. É só ficar atento ao amanhecer, com aves, enfileiradas em um verdadeiro v, passando de um ponto para outro, em bandos, até desaparecer de nossa vista. A moça da portaria do hotel, onde me hospedei, não soube responder que tipo de pássaro era. Nunca levantou a vista para o céu a fim de ver o vôo daquelas aves, que trafegam por Mossoró no começo da manhã. E também do entardecer, porque eu estava lá e vi, e parei, e olhei, o v vem se mexendo, às vezes curto, outras, mais cheio, mas sempre em forma de v, num raciocínio matemático a gerar formas repetidas e perfeitas, deixando o azul celeste mais bonito com o contraste que o preto dos pássaros provoca, ensejando do homem a imitação nas esquadrilhas da fumaça que, de quando em quando, o noticiário da tv mostra. O homem imitando o pássaro. Da ave para o avião, questão de letras a mais.
          Não ficou só nisso. A av. Presidente Dutra, salpicada, no meio, de árvores, e, entre elas, algumas espécies de acácia, o verde das folhas sendo substituído pelo amarelo das flores. Agora foi o rapaz do hotel que não soube me responder o nome da árvore. Ali, passando diariamente pela avenida, vendo as árvores a sua frente e a indiferença com o nome destas, não se fascinando pelo belo que o amarelo das flores representa. E acácia vi muitas, de Assu até Mossoró, em meio a caatinga cinzenta do sertão quando o verão começa a se anunciar, como algo divino pelo amarelo que carrega, no contraste que forma, a ponto de me provocar para um foto, aqui e ali, atento a cada quilometro rodado para não perder uma só acácia que a natureza fincou na estrada. Pombos, aves em bando e as acácias em/de Mossoró. Só as últimas me simbolizaram para a cadeira da novidade.
Publicado no Diario de Pernambuco
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