Entre “Leões e Cordeiros”, salvar o Brilho no Olhar
          O apelo de um filme que reúne Robert Redford e Meryl Streep é irrecusável para mim. Mesmo sabendo, pela crítica dos jornais, que o filme “Leões e Cordeiros” não foge ao modelito norte-americano, prefiro me ater às boas lembranças que as interpretações desses dois atores me trazem.
          Vou. E não me arrependo.
          Há quem saia do cinema comentando detalhes sobre a aparência física de meu velho galã, reclamando cuidados de que nem percebo a falta. Para mim o filme tem outra importância, muito maior, que transcende até mesmo seu inegável aprisionamento no estilo simplista dos EEUU fazerem cinema.
         A mim, o que me importa é que em duas horas de filme eu pude me lembrar de um tema fundamental na minha vida: o do brilho nos olhos. Isto mesmo: olhos que faíscam expressando desejo intenso e interesse apaixonado por idéias e projetos.
          Enfim, penso que esse é um filme sobre encanto e desencanto. Faz-nos pensar em tudo com que um dia sonhamos e em como nos deixamos ir levando para o lado oposto, muitas vezes.
          A figura central é um mestre e a Educação, ali, é a fala da esperança.
          Escrevi, em minha monografia de pós-graduação, que chamei “Em Defesa de um Estilo Próprio de Ser… Professor” sobre as características que tornam um professor num mestre; que o fazem, de fato, um Educador.
          Pelas entrelinhas (e aí é preciso saber ler nelas) esse filme trata de questões presentes em todo nosso mundo ocidental contemporâneo. E também de outras, velhas conhecidas do ser humano, em toda sua história. Destaco entre estas últimas, a vaidade, parente próxima da onipotência e da arrogância.
          Então, fico pensando que o verdadeiro mestre é justamente aquele que pode perceber o brilho dos olhos de seus alunos, interpretando-o não somente como admiração por sua (do mestre) capacidade e desenvoltura, mas sabendo que, se essas qualidades existem, elas são apenas detonadoras de outros atributos muito mais importantes (porque em potência de eclosão) dos próprios estudantes.
          Em outras palavras: a vaidade às vezes nos impede de ver o potencial do outro, independente de nossa participação em sua vida. E em Educação isto é mortal.
          Estimular é poder ver, no brilho do olhar do outro, a chispa da Vida, que ali pulsa e que o confirma, também, ser criador e não mero espectador passivo. Na sociedade do espetáculo, em que vivemos, isso faz toda diferença.
          Estimulados pela competição ferrenha desde a infância e imersos nela, na barbárie da vida adulta, corremos o risco de nos centrarmos de tal forma em torno de nosso próprio umbigo, que vamos perdendo as dimensões dadas pelas diferenças, capazes de estimular a ampliação de nossa visão e trazendo novas perspectivas, que enriquecem o pensamento, favorecendo que cultivemos uma forma mais sábia de viver.
         Qualquer posicionamento fundamentalista (mesmo em roupagens discretas) se baseia em uma forma estreita de pensar, geradora de hostilidade, de fantasias paranóicas, causadas pelo medo das diferenças (e da grande semelhança, que existe nelas).
          Tudo isso me evocou o filme, porque está ali, para quem quiser ir ver e correr o risco de se lembrar.
          Mas, por hoje, deixo aqui um lembrete: o que nós não podemos é deixar que se apague, em nós, essa luminosidade que brota espontânea, frente à mestra maior, que é a Vida, tão generosa, que nos oferece sempre o direito ao livre arbítrio.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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