Outubro é celebrado, em nossa liturgia, como o Mês das Missões. São dois os padroeiros das missões, escolhidos pelo Papa Pio XI: São Francisco Xavier e Santa Teresinha de Lisieux. Dificilmente se poderia encontrar uma dupla de padroeiros com biografias tão diferentes.
          Francisco nasceu em 1506, filho de pais aristocráticos, no castelo que levava o nome de sua mãe, Maria Xavier, dos nobres de Navarra, no país basco. Seu pai era conselheiro da corte do Rei João III de Navarra. Deixando de lado as Universidades de Salamanca e Alcalá, o pai o envia a estudar em Paris. Foi lá que teve, como colegas de quarto, o francês Le Fèvre e o também basco Inácio de Loiola, que formaram um grupo chamado Societas Iesus (Sociedade de Jesus). Mais tarde, em 1534, é esse grupo que, liderado por Inácio e integrado por mais quatro companheiros, entre os quais o português Simão Rodrigues, forma a COMPANHIA DE JESUS.
          Ordenado sacerdote em Veneza, de onde pensava ir para a Terra Santa, Francisco Xavier vai afinal para Portugal, escolhido por Santo Inácio, para daí ser enviado às missões das colônias portuguesas no Oriente. Em 1541, parte para a Índia no navio comandado por Martim Afonso de Sousa, um dos primeiros colonizadores do Brasil e nomeado vice-rei da Índia. É missionário em Goa, depois no Ceilão (atual Sri Lanka), na Índia, no Japão, na China e na Indonésia oriental, batizando milhares de nativos desses países todos. Foi chamado o Apóstolo das Índias e é considerado o maior evangelizador da história da Igreja, desde o apóstolo São Paulo.
          S. Francisco Xavier faleceu em 3 de dezembro de 1552 na ilha de Sanchoão, tendo nas mãos o crucifixo que Santo Inácio lhe havia dado, quando partiu missionário para o Oriente. Seu corpo é hoje conservado na Basílica do Bom Jesus de Goa, onde tive a felicidade de venerá- lo.
         Um parente seu, João de Azpilcueta Navarro, foi missionário jesuíta no Brasil. Em Lisboa, São Francisco Xavier está homenageado no Padrão dos Descobrimentos, ao lado dos grandes descobridores portugueses do século 16.
         Bem diversa é a vida da outra Padroeira das Missões, Teresinha de Lisieux. carmelita descalça, da reforma de Santa Teresa de Ávila, Teresinha viveu e morreu em Lisieux, na Normandia, onde nasceu em 2 de janeiro de 1873 e onde morreu aos 24 anos de idade, em 30 de setembro de 1897. Uma única vez saiu da França, para ir em peregrinação a Roma, esperando obter do Papa Leão 13 permissão para entrar no convento aos 14 anos de idade. Na verdade, entrou no Carmelo de Lisieux em 1888, com apenas quinze anos.
         Sua vida, de monja carmelita, é a mais singela que se possa imaginar. Ela é contada, entre seus muitos escritos e poesias, na autobiografia, que tomou o nome de “HISTÓRIA DE UMA ALMA” (1898), revista depois em edição crítica e divulgada, com o sub-título de “Manuscritos autobiográficos” em 1972, para o centenário de seu nascimento.
          Nesta obra, vê-se bem delineado o espírito missionário da Santinha de Lisieux. Diz ela: “Quisera iluminar as almas, a exemplo dos profetas e doutores. Quisera percorrer toda a terra, pregar o vosso Nome, ó Jesus muito amado, e plantar nas regiões infiéis a vossa cruz gloriosa. Não me bastaria, porém, uma só missão; quisera anunciar o Evangelho em todas as partes do mundo ao mesmo tempo, até às mais remotas ilhas. Quisera ser missionária não somente por espaço de alguns anos; quisera sê-lo desde a criação do mundo até a consumação dos séculos. Que havereis de dizer de todos esses devaneios? Como essas aspirações se iam tornando verdadeiro martírio para mim, abri um dia as epístolas de São Paulo e, na 1ª Carta aos Coríntios, capítulos 12 e 13 li que não podem todos ser a um tempo apóstolos, profetas e doutores; que a Igreja é composta de diferentes membros e não podem os olhos ser mãos ao mesmo tempo. E continua São Paulo: ‘Aspirai a melhores dons e eu vou mostrar-vos um caminho ainda mais excelente.’ E o Apóstolo explica como todos os dons, ainda os mais perfeitos, nada são sem o Amor. Eu acabava finalmente de encontrar descanso. Considerando o corpo místico da Santa Igreja, não me havia reconhecido em nenhum, ou melhor, queria reconhecer-me em todos. A caridade veio dar-me a chave da minha vocação. Compreendi que a Igreja sendo um corpo, não lhe falta o mais necessário, o mais nobre entre os órgãos; compreendi que ele tinha um coração, e que esse coração ardia em amor. Compreendi que só o amor movia seus membros e que, se viesse a extinguir-se o amor, os apóstolos deixariam de anunciar o Evangelho e os mártires se recusariam a derramar o seu sangue. Entendi que no amor estão encerradas todas as vocações, que o amor é tudo, que abrange todos os tempos e lugares, porque é eterno! No auge da minha alegria, exclamei então: Ó Jesus, meu amor, até que enfim descobri minha vocação: a minha vocação é o amor! Sim, encontrei meu lugar na Igreja. No coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o amor! Assim, serei tudo; assim se realizará o meu sonho!”
          Aí está como a Santinha do convento carmelita de Lisieux realizou sua vocação missionária, sem ir para o Carmelo de Hanoi, na possessão francesa da Indochina, hoje Vietnam, como chegou a ser planejado e se tornou patrona das missões e dos missionários.
         É que a força e a vitalidade da igreja missionária estão na oração, no silêncio e na vivência da caridade, que anima todo o corpo da Igreja.
          Faço notar que a Arquidiocese de Maceió possui em seu clero o Mons,. Dr. Pedro Teixeira, considerado pelos carmelitas o maior teresiólogo atual.
(*) É arcebispo emérito de Maceió.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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