Na semana passada, Tijuana, no México, foi sede do Congresso Eucarístico Nacional. Cidade situada no extremo noroeste do México, na divisa com os Estados Unidos, de fronte à cidade americana de San Diego, Tijuana tem diversos motivos para merecer um destaque especial.
          A partir de agora, com certeza, pode acrescentar mais um, muito positivo, pela exímia organização deste Congresso, realizado com esmero, e agraciado por dias de clima agradável, que tornaram Tijuana ainda mais acolhedora e hospitaleira, além de mostrar a consistência da religiosidade do seu povo, que se revelou de maneira esplêndida no Congresso Eucarístico.
          Mas o fato de estar às portas dos Estados Unidos, faz com que a cidade se veja às voltas com a complexa problemática da migração, que nos últimos anos se agravou, aumentando o número de vítimas, muitas delas perdendo sua vida na tentativa justamente de buscar sua sobrevivência além fronteiras.
          Se já para o país inteiro do México é um desafio conviver com a proximidade dos Estados Unidos, precisando ao mesmo tempo resguardar sua identidade nacional, e manter um relacionamento adequado com a potência americana, muito mais esta tensão é vivida por uma cidade, como Tijuana, que se defronta abertamente com a realidade do outro país, que se escancara do outro lado da fronteira, tão próxima, e ao mesmo tempo tão inacessível.
          Desta maneira, acontece que a cidade acaba vivenciando uma problemática que não é só dela, mas de todo o país. E mais. Uma cidade como Tijuana acaba, na verdade, carregando o encargo de explicitar problemas que são de todos os países, que fazem parte do desequilíbrio existente entre situações tão contrastantes, que se traduzem em desigualdades gritantes, que se mostram à vista em regiões fronteiriças.
          Já ao sair do aeroporto de Tijuana, quem chega recebe logo um baque, mais violento do que um soco no rosto. Pois em frente ao aeroporto já começa a fronteira que separa os dois países. O muro parece ameaçar quem dele se aproxima. Como se não bastasse o muro antigo, já enferrujado, foi construído outro atrás dele, mais alto, mais resistente, encimado de espesso arame farpado. A mensagem é clara e contundente. E´ proibido passar, é perigoso se aproximar.
          Com certeza, este muro não vai cair tão facilmente. Porque suas causas vão durar muito tempo. Elas não se encontram aí na fronteira. Estão inseridas na dinâmica interna da economia mundial, que produziu desigualdades tão gritantes, que se mostram à vista em alguns pontos críticos, onde as diferenças se traduzem em tensões que precisam ser contidas com firmeza, que facilmente descamba em violência.
          Esta problemática difícil levou a Igreja do México a escolher Tijuana como sede do Congresso Eucarístico. No meio desta problemática complicada e difícil, de separação e exclusão, era importante colocar, com serenidade e coragem, a mensagem de reconciliação e de paz que o sacramento da Eucaristia continua testemunhando, independente das situações em que nos encontramos. O lema do Congresso Eucarístico não deixava dúvidas: “Eucaristia, mesa fraterna para a reconciliação e a paz”.
          Diante do muro, com sua prepotência de imposição e de fatalidade, era necessário abrir o horizonte da esperança, fundada na força diferente do Evangelho. As palavras de São Paulo aos Efésios pareciam endereçadas de propósito para o contexto vivido por este Congresso Eucarístico: “Cristo é a nossa paz. De ambos os povos, fez um só, tendo derrubado o muro de separação e suprimido em sua carne a inimizade.” (Ef. 2,14)
          Como conciliar a utopia cristã com a dura realidade dos muros que ainda permanecem de pé, é um desafio que Tijuana enfrentou neste Congresso, e que certamente merece oportunamente outras reflexões.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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