TEXTO 1
Existem várias explicações (e especulações) acerca desse mal que atinge, cada vez mais, a humanidade. Independente de sexo, idade, condição social, ela vem chegando devagarinho e vai se instalando sem alarde, sem se deixar perceber. E de repente, ela está lá, fazendo parte de nossa vida, como se tivesse nascido conosco. Estima-se que dentro de alguns anos esse mal estará em pé de igualdade com os atuais males que afligem a humanidade, como a hipertensão, as doenças cardíacas, a obesidade, entre outros.
Primeiro é a falta de vontade. Falta de vontade de tudo, de qualquer coisa. Mesmo algo que costumávamos gostar de fazer, não nos provoca nenhum tipo de reação, de desejo. É um desânimo generalizado, uma letargia que chega a ser confundida com preguiça. Mas é apenas falta de vontade! Depois, vem uma espécie de tristeza por nada. Ou por tudo! Tristeza pela falta de vontade, pela vontade de reagir ou pela não reação diante da vida. É inexplicável, nem sempre encontramos motivo para essa tristeza; mas ela está lá. E nos torna ainda mais resistentes aos prazeres da vida. Sentimo-nos abatidos, desanimados, sem forças para reagir.
Nossa criatividade, nossa interatividade, até mesmo nossa força de trabalho, tudo é prejudicado pela companheira invisível e silenciosa. Até mesmo nossos hábitos mais arraigados se rendem diante dela! O simples ato de escovar os dentes se torna um sacrifício. E o banho? Uma tortura! Melhor deixar como está! Afinal, ninguém vai perceber! Ou se importar! É! Existe também um sentimento de abandono, como se as pessoas não mais se importassem, como se não fossemos importantes, até mesmo como se não existíssemos; ou não deveríamos existir!
Como tudo vai mal, como não encontramos forças para lutar e vencer os obstáculos, começamos a negligenciar tudo, distribuindo ou vendendo bens, por qualquer preço, para nos livrarmos de tudo o que não seja nossa tristeza interior, que já se transformou, nessa altura, na coisa mais importante que temos. E para alimentá-la, nada como a sensação de perda dos bens que se vão com o vento! Que eles façam a alegria dos outros, já que nada é capaz de alegrar nossa própria vida.
Depois vem uma fase ainda mais triste! E perigosa! A da falta de vontade de viver. A da vontade de morrer ou, nos casos mais graves, a de começar a pensar na inutilidade da vida e, consequentemente, como fazer para abreviá-la! Já que ninguém se importa mesmo, por que continuar a viver? Melhor seria desaparecer de vez. E muitas pessoas desaparecem mesmo! Alguns somem pelo mundo, sem lenço nem documento, até que a própria vida se encarregue de desaparecer com o corpo. Outros optam pelo atalho do suicídio, extremamente difícil se levarmos em conta nossa cultura cristã, mas que, por outro lado, aceleraria o fim daquele suplício de carregar uma vida sem alegrias, sem propósitos.
Eu já passei por todas essas fases. E por outras, intercaladas e misturadas a essas. Tive a sorte de encontrar forças para me tratar. Tive a sorte de encontrar bons profissionais que me trouxeram de volta à vida e às alegrias que ela nos proporciona. Mas (agora sei!) ela é uma companheira difícil de nos deixar; resistente como o pior dos vícios, que continua ali, quietinha e à espreita para se reinstalar. E vez ou outra sou atacado por ela. Talvez devessem criar (se é que já não criaram) o DA (Depressivos Anônimos), para auxiliar as pessoas dependentes que têm dificuldade em viver livremente.
Hoje eu ando alerta, atendo aos primeiros sinais, preparado para combatê-la, até mesmo quimicamente, se necessário. Mas sei que é difícil! De vez em quando sou fisgado e custo a perceber a tristeza, a falta de energia e de vontade, o desânimo que vão se instalando em mim. Mas até agora tenho conseguido, a duras penas, me manter à tona. Manter-me vivo!
Este é um depoimento livre, sem pesquisas, sem qualquer noção científica, sem qualquer traço de estudo ou conhecimento mais profundo e profissional. Este é apenas um depoimento baseado em meus sentimentos e meus sofrimentos diante deste mal. Espero que sirva de alerta para, pelo menos uma pessoa.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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