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Dois amigos caminhavam pela floresta. Em um determinado momento avistaram um enorme urso que vinha em sua direção. Imediatamente um deles subiu em uma grande árvore deixando o companheiro sozinho. Este, sem saber para onde ir e vendo que o urso era grande demais para ser dominado, jogou-se no chão fingindo-se de morto. O urso se aproximou e começou a cheirar o homem estendido no chão. O pobre rapaz fazia o possível para não respirar, afinal dizem que os ursos não atacam animais mortos. Depois de cheirar o homem dos pés aos seus ouvidos, o grande urso perdeu rapidamente o interesse naquele corpo aparentemente sem vida e retirou-se continuando seu caminho. O outro homem desceu da árvore e curioso perguntou ao amigo se o urso o havia ferido. O rapaz levantou se e disse que o animal o revelara algo de muito importante. Com espanto, o amigo quis saber imediatamente o que o urso havia cochichado em seu ouvido. O rapaz então respondeu: “Nunca caminhe pela floresta com um amigo que foge diante do perigo!” Mesmo depois de adultos costumamos, muitas vezes, esperar por alguém que venha resolver nossos problemas. Talvez por uma saudade inconsciente dos tempos de infância, nos quais havia sempre um adulto que nos salvava dos perigos, esperamos, não raramente, que um líder nos ajude a alcançar nossos objetivos, um ser iluminado nos entregue a solução de nossos problemas, um “salvador da pátria” nos conduza pelo caminho certo. Se não encontramos este alguém entre os mortais direcionamos nossa esperança a um Deus. Ele deve nos proteger, solucionar nossas dificuldades e endireitar nossa vida. “O homem que deixa um líder prescrever seu curso é como ruínas rebocadas para a pilha de escombros” (Ayn Rand). Viver, porém, significa mais que um simples existir. Se pensarmos bem, um ser humano começa realmente a viver quando assume uma ética individual através da qual ele se torna seu próprio líder. Sem dúvida alguma, todos nós precisamos da ajuda de alguém e ninguém é totalmente auto-suficiente, mas esta inter relação entre os seres humanos não pode significar dependência e acomodação. Todo ser humano deve buscar ser o líder de sua história e não esperar a chegada de um para que sua vida se desenvolva.

O primeiro passo para esta necessária autonomia é compreender que a escada da auto realização é escalada através dos degraus da oportunidade. Ser líder é em primeiro lugar perceber as oportunidades que cada situação nos oferece. Toda a situação se constitui em uma circunstância adequada para alguma coisa. Oportunidade de ajudar alguém, oportunidade de aprender algo, oportunidade de perder alguma coisa, oportunidade de ganhar, oportunidade de arriscar. Enfim, toda situação é ocasião de um agir e o fundamental é ser lúcido o suficiente para compreender a oportunidade que o momento nos oferece. Outro passo necessário para uma vida auto-realizável é a valorização da privacidade. Geralmente as pessoas dependentes se incomodam com o que o grupo pensa e fala e se importam demasiadamente em saber o que os outros fazem. Assim vivemos mergulhados em uma brincadeira mesquinha e repressora de espionagem. E se não nos sentimos espionados por alguém e nem conseguimos saber como os outros estão conduzindo sua vida criamos a idéia de que Deus está constantemente nos espiando. Porém, nós somente criaremos uma civilização verdadeiramente humana se vivenciarmos um processo de deixar o ser humano livre dos seres humanos.

Juntamente com a falta de privacidade e, portanto, de liberdade de tomar suas próprias decisões, o ser humano assimila a falsa idéia de que é uma virtude concordar com os outros. Porém, a vida é sempre triste quando plagiamos a existência, em outras palavras, a vida se reduz a uma mesmice quando reproduzimos os padrões do grupo ao invés de seguir nossas intuições. O ser humano criador é aquele que discorda. O criador é sempre aquele que nada contra a corrente. Para discordar é necessário, porém, a corajosa postura de aprender, conhecer e ter domínio sobre aquilo que somos e fazemos. Ninguém possui razões e argumentos para discordar se não possui conhecimento da situação. Ninguém conhece realmente se não aprende a raciocinar por si mesmo. Por isso, a coisa mais difícil no mundo é fazer o que queremos. Apesar de aprendermos desde cedo que é fácil fazer simplesmente o que desejamos e que necessitamos de regras para restringir a nós mesmos, a coisa mais difícil no mundo é fazer o que queremos. Para fazermos o que desejamos devemos ter a maior espécie de coragem: assumir a autoria de nossos atos. Esta coragem, porém, é o sintoma de verdadeira autonomia, maturidade e caminho de auto-realização. Ninguém é verdadeiramente feliz se não tiver a sensação de poder usar sua capacidade racional e de agir por si mesmo.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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