5 de setembro de 2011
“Pobres, vós tereis sempre convosco”. Resposta do Divino Mestre ao apóstolo traidor, que fingindo compaixão pelos pobres, censurou o “desperdício” do caro perfume usado em Jesus pela conhecida pecadora.
A POBREZA é uma realidade na vida dos homens, em todos os tempos e lugares, sem executar a nossa Pátria. Há regiões, porém, em que essa cruel calamidade se agrava ainda de modo mais intenso.
Ultimamente, foi lançada entre nós a desafiante proposta do FUNDO DE COMBATE E ERRADICAÇÃO DA POBREZA, como antídoto às penúrias dos pobres brasileiros, libertando-os dos sofrimentos e precárias e dolorosas contingências de vida.
Oxalá que os responsáveis pelo admirável e nobre projeto estejam deveras imbuídos de bons propósitos e daquela verdadeira solidariedade, que tudo dá e faz sem sentimentos demagógicos e interesses eleitoreiros, que levam o nosso ingênuo povo à costumeira decepção de promessas enganosas e não cumpridas.
Conforme o profeta maior deste século a se extinguir, Dom Hélder Câmara, POBREZA é ter apenas o necessário. MISÉRIA é nem isso ter. Os miseráveis nada têm e vivem a mendigar. “MENDICÂNCIA” é o último grau da POBREZA.
Erradicar a POBREZA é proposta por demais ousada.
Fiquemos com os conceitos do grande DOM DOS POBRES, que otimistamente esperava um ano 2000 sem MISÉRIA e contentemo-nos com o tentar erradicar apenas de que “o fundamental não é a acumulação, mas a partilha”.
E, ainda, uma aplicação justa e honesta das rendas públicas e impostos em favor da educação, saúde, alimentação e moradia dos carentes, descentralizando as grandes fortunas, pois, “há muito pão em poucas mesas e pouco pão em muitas mesas.”
Comovemo-nos ao assistir pela televisão a cenas tocantes de MISÉRIA absoluta, onde nossos irmãos são vistos quase descaracterizados como pessoas, parecendo mais espectros humanos, tamanha sua decadência física, vítimas que são da fome e de toda a sorte de necessidades. Eles são realmente aqueles emblemáticos heróis que conseguem permanecer humanos numa sociedade escandalosamente desumana.
Entretanto, o sentimento só, não é suficiente. Faz-se necessária a ação, o dar, o doar-se, tornar-se irmão. “Dar quando nos pede é ser generoso. Dar antes que nos peça, é ser irmão”.
Evoquemos as primeiras comunidades cristãs, onde ninguém dizia que eram suas as coisas que possuíam, mas tudo entre eles era comum. Não havia nenhum necessitado entre os mesmos.
Enfim, não pretendemos alcançar hoje uma perfeição tal de vida fraterna, nem tão pouco querer encarnar em nós a figura universal do grande Santo de Assis, que se despojando de tudo em benefício do OUTRO fez opção total pela POBREZA, desposando-a como a SENHORA POBREZA.
Queremos e devemos sim, viver dentro de um parâmetro honesto de justiça, destinando o que nos é supérfluo ao irmão MISERÁVEL, que nem do necessário dispõe. O supérfluo não é meu, mas DELE.
COMBATAMOS A MISÉRIA!… DIGAMOS COMO DOM HÉLDER : 2000 SEM MISÉRIA!…
* Autora do livro – Retalhos do Cotidiano.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.
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