Djanira Silva 27 de setembro de 2011
          A mulher entrou na Igreja, sentou-se no último banco. Respirou aliviada. Sentia-se exausta da canseira dos últimos dias: doenças, exames, faltas ao trabalho. Seu alívio, porém, durou pouco. Uma mão pesada pousou no seu ombro e a voz no seu ouvido.
          – Fique calada, não olhe para trás e me dê o pacote que você botou.
          Enquanto falava, fazia pressão nas costelas da mulher com o que ela imaginou ser uma faca.
          Tremendo, abriu a bolsa, sem a menor intenção de reagir, e entregou-lhe o pequeno pacote.
          Ainda tremendo e sem poder conter o choro esperou que o homem se afastasse e saiu desesperada. Estava sem dinheiro para pegar o ônibus. Pegaria um táxi, em casa pagaria. A mãe assustou-se quando a viu chegar de carro.
          – Pelo amor de Deus, o que foi que houve.
          Quando conseguiu para de chorar contou que havia sido assaltada:
          – O que vai ser da gente, mãe, o sujeito levou o meu salário todinho.
          – Tenha calma, minha filha, lembre-se de que você está doente, não pode ficar neste estado. Dinheiro vai, dinheiro vem. Pelo menos entregou as fezes para fazer exame?
          – Entreguei nada mãe, fui logo receber dinheiro. A porcaria ainda está aqui. – Ao abrir a bolsa deu um grito:
          – Meu Deus, entreguei ao ladrão o pacote com as fezes, a esta altura ele deve estar pensando que quem rouba na Igreja é castigado.
Obs: Texto retirado do livro da autora – A Maldição do Serviço Doméstico e Outras Maldições.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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