Djanira Silva 15 de agosto de 2011
          O olhar perde-se no nada, as linhas do horizonte marcam os limites do mundo, do mar, da minha alma.
          Não gosto do mar, dos mistérios que carrega feito as pessoas que encheram de perigos minha infância, cheia de histórias mal contadas. Temo o silêncio da profundidade e o enigma do seu vai-e-vem. A água toca-me os pés.
          Maré me leva, maré me trás.
          O olhar faz o caminho de volta para longe de uma água que se enrosca, sobe e desde numa enganação, numa brincadeira de maré.
          Maré me leva, maré me trás.
          No alto da serra, o Cruzeiro. Embaixo a cidade sem mistérios, sem segredos, sem enganos.
         A menina corre por todos os lados, cata goiabas, pitangas, pitombas, ingás. Joga os restos no chão. A serra gosta de cascas e sementes. O mar, não, fica poluído.
          Dá uma cambalhota imagina que o mar é um cavalo, puxa-lhes as rédeas subjuga-o ao pé da serra.
          Maré me leva, maré me trás.
          De que adianta ser criança se a gente cresce?
          Seria bom esquecer do que não se gosta, fechar o pensamento como se fecha uma janela, ou desligar como se desliga um rádio ou os olhos quando chega o sono.
         Haverá vida depois do esquecimento?
         Sentiu saudade da menina livre que não queria ser gente grande.
          Maré me leva, maré me trás.
          A dor leva a alegria, devolve a amargura do agora.
          O mar continua ali, coisa misteriosa que vem-e-vai nas marcas de uma alegria ou de um desespero. Nunca vai, nem fica, nunca vai, nem fica.
          Maré me leva, maré me trás.
Obs: Texto retirado do livro do autor – Pecados de Areia
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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