Nesses tempos globalizados e competitivos, estamos cada vez mais em “cima do muro”. Sempre evitando o posicionamento, tentando agradar a gregos e troianos e tornando-nos um ser despersonalizado. É a rapidez das informações oferecidas aos borbotões nos incontáveis veículos impressos que proliferam nas bancas e nos sítios infindáveis da rede mundial de computadores.
Os temas da moda como transgenia e pesquisas com células-tronco pululam em nossos ouvidos e bocas diariamente. Mas, se alguém nos perguntar sobre uma questão específica, não conseguimos ter uma posição clara, de tão perdidos que nos encontramos. Mesmo porque ninguém pergunta nada sério a alguém, como se houvesse um pacto simbiótico da burrice e da alienação adquiridas.
Temos sido volúveis, imediatistas e apressados atropelando a tudo e a todos, inclusive a nós mesmos. Preocupados que estamos em não fechar portas ou magoar ou desiludir as pessoas que, ao final, quem acaba magoado ou desiludido somos nós, e o que é pior, em geral, conosco mesmo.
Voluptibilidade essa decorrente da sempre traiçoeira conveniência aliada com a boa intenção. Terminamos enredados numa tríade composta pelo interesse, por uma pseudo-bondade e pela falta de conhecimento, mal desse e do século passado, em que há um excesso de informação em detrimento do verdadeiro conhecimento.
Ultimamente, a maioria de nós não tem tido qualquer situamento diante dos dilemas e desafios dessa era da diversidade e da controvérsia, na qual as informações nos chegam de arrastão como verdades absolutas num momento e, no instante seguinte, caem por terra. Já não sabemos se um político é de esquerda ou de direita, de tanto que essa classe tem utilizado o topo do muro como moradia.
Mas toda essa onda do “tirar o meu da reta” tem um preço. No uso da metralhadora giratória do ‘sim’ e do não posicionamento, nossa personalidade vai ficando perigosamente escondida até que… Até que, enfim, ela não suporta tanta negação e explode, aflorando a dor de tantos conflitos sufocados. Dor essa que não é dividida pelos vários que fomos ao dizer tantos ‘sim’, mas apenas pelo nosso eu. E aqui está a tragédia: a dor, pessoal e intransferível, não pode ser compartilhada.
Obs: Texto retirado do livro do autor – Surtos & Sustos
Imagem enviada pelo autor.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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