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Há alguns artigos atrás, afirmei que Portugal caminhava por maus caminhos, à semelhança do que acontecera no tempo da 1ª República. A SEDES fez a mesma afirmação, pela mão de um conjunto de reputados economistas e ex-ministros. Estamos em meados de Julho e, graças a uma maioria parlamentar PSD-CDS, o novo governo viu aprovado o seu programa na AR. Contudo, ao longe, ainda não se vislumbram sinais positivos, nem ao perto, gárgula por onde escoar o padecimento. Há quem diga que há uma luz ao fundo do túnel, mas o problema põe-se em saber se o comboio vai para lá ou se vem para cá e, até agora, ninguém se meteu pelo túnel dentro com receio de ser trucidado.
Na conferência “E Depois da ‘Troika?” Silva Lopes afirmou que Portugal é praticamente igual à Grécia. Segundo este ex-ministro das Finanças e do Plano e ex-governador do Banco de Portugal, os 78 mil milhões de euros, que Bruxelas e o FMI acordaram emprestar a Portugal, são insuficientes e a União Europeia tem de arranjar novas formas para apoiar países em dificuldades. No programa televisivo de 4 de Julho “Prós e Contras”, Carlos Barradas, especialista em assuntos internacionais e comentador da RTP, considerou que o nosso modelo económico falhou, que a Grécia é um caso patente de insolvência e Portugal um caso possível. O que se está a tentar evitar é que a falência da Grécia seja declarada antes de dois anos a fim de eliminar as perdas da banca comercial dos países mais expostos (França e Alemanha).
Daí, não é de admirar que a agência de rating “Moody’s” tomasse a decisão de descer o nível português para Ba2 “lixo”, facto que gerou contestação, não só em Portugal, mas também a nível de instâncias europeias. De harmonia com aquilo que temos vindo a escrever em outros artigos, a submissão da economia às finanças foi um erro irresponsável do mundo moderno, facto pelo qual, os lobos já se estão a preparar para descer ao povoado. Porém, muito embora os políticos tenham muita culpa em tudo o que se passou e se está a passar, também não deixa de ser verdade que, num sentido lato e à escala devida, a maioria dos portugueses também tem alguma culpa. Depois da adesão à Comunidade Europeia, não soubemos utilizar os instrumentos que nos foram facultados no sentido de garantir um concertado modelo de desenvolvimento. Limitámo-nos e mal, a usar os subsídios, deixando-nos enrolar pelo facilitismo, pela sedução do imediato, pela ineficiência, pelo ócio e demais motivos.
Faz parte da cultura portuguesa, olhar para a ponta do dedo quando se aponta o horizonte. Deste modo, quando tudo indicava que íamos produzir, em quantidade e qualidade, bens transaccionáveis a preços competitivos, para podermos exportar mais do que importávamos, o nosso défice comercial começou silenciosamente a agravar-se, facto que se tornou mais perceptível no final do cavaquismo. António Guterres foi o primeiro político a reagir, quando apresentou a demissão de primeiro-ministro, deixando atrás de si a expressão que perdura nos esconsos das memórias sãs «o pântano». Durão Barroso pôs os pés no governo, disse que o país estava de tanga e aceitou a fuga ofertada ao seu antecessor e, daí em diante, nunca mais ninguém teve mão no desperdício. Santana Lopes agravou a situação e Sócrates meandrou à procura de uma fuga para a frente, desculpando-se com a crise internacional de 2007/2008. O défice comercial acumulado (1993 – Março 2011) ronda os 370 mil milhões de euros, tendo em consideração a taxa de 3% ao ano. Em termos de tecido produtivo, o fácies do Portugal de hoje está bem marcado pela desertificação das terras agrícolas, pelo abandono do mar e pelos muitos cemitérios industriais dispersos pelo país, estando a mácula da industrialização bem patente no distrito de Coimbra.
Em 1 de Dezembro de 2001, a Argentina entrou em bancarrota. A dívida atingiu 81,2 mil milhões de dólares (cerca de 91 mil milhões de euros) e os juros por pagar chegaram a 25 mil milhões de dólares (28 mil milhões de euros). O peso caiu drasticamente e os bancos tiveram de ser guardados por polícia fortemente armada para não serem destruídos por uma população apopléctica, que inundou as ruas das cidades batendo caçarolas e panelas e a vida na Argentina virou inferno por muitos anos.
Não sei como seria na Europa! Contudo, durante a nossa efémera existência nem sempre o que está mal acaba mal e o dia-a-dia deve ser vivido com esperança, mesmo que, por intencionalidade da Moody’s, possamos ser considerados lixo. A Irlanda, Espanha, Itália e Bélgica estão também na calha, o que equivale a dizer que a União Europeia e o euro correm sérios riscos, quer do ponto de vista político, quer do ponto de vista financeiro. Pelos vistos, o dolar ganhou a guerra contra o euro, muito embora embora alguns estados da USA também estejam em grandes dificuldades.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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