A festa de São Pedro me faz lembrar a experiência vivida anos atrás, por ocasião da “visita ad limina”, a peregrinação aos “túmulos dos apóstolos”, que os bispos são convidados a fazer periodicamente.
Comecei minha peregrinação visitando o túmulo de São Pedro, em Roma. Ele se encontra no sub-solo da atual basílica de São Pedro. Ela está construída sobre um antigo cemitério, que ficava fora da cidade de Roma, do outro lado do Tibre.
As escavações arqueológicas, mandadas fazer por Pio XII, reconstituíram a série de edificações feitas no lugar onde hoje se encontra a atual basílica de São Pedro. Ela é a quarta das igrejas construídas no mesmo lugar, tendo todas como referência o mesmo ponto, indicado agora pelo centro da cúpula.
Pois bem, este ponto central conduziu os pesquisadores a identificarem um velho e tosco túmulo, ainda existente, contendo ossos de uma pessoa idosa. Não custa reconhecer que seriam os ossos do velho Pedro, morto em Roma, e lá enterrado.
Pois bem, aí começou minha reflexão. Pensei no rude pescador da Galiléia, que teve a sorte de um dia ser convidado pelo Mestre a abandonar barco e redes, para empreender a aventura de se tornar “pescador de homens”. Que seria do pobre pescador, se o Mestre não o tivesse chamado?
Certa vez, o próprio Pedro pediu contas ao Mestre, perguntado pela recompensa que podiam esperar. “E nós, que deixamos tudo, e te seguimos, o que teremos?”.
O pobre Pedro mal podia imaginar o tamanho do momento que seria construído em sua honra. A promessa do Mestre se cumpriu de modo generoso e impressionante. “Cem vezes mais neste mundo, e a vida eterna no outro”. O impressionante túmulo de Pedro, feito igreja para acolher a multidão, é símbolo vivo da recompensa que aguarda todos os que põem sua esperança no Mestre.
Depois, prossegui minha peregrinação rumo à Terra Santa, passando pelas pirâmides do Egito. Visitamos as três mais famosas, construídas para guardar os restos mortais de Quéops, Quéfren e Miquerinos. Impressionam por sua grandeza, e pela nobre intenção de garantir alguma sobrevida aos Faraós que as tinham mandado construir como repouso perpétuo de seus corpos.
Tive o atrevimento de subir pela íngreme escada interna, que leva ao centro da pirâmide de Quéops, onde estava seu sarcófago. Hoje a ampla sala está totalmente vazia.
As pirâmides ficaram abandonadas por séculos. Os ladrões vieram, levaram os sarcófagos de ouro com as múmias dos faraós, e ninguém sabe onde foram parar.
Tiveram sua finalidade frustrada. De nada adiantou construir túmulos tão solenes e impressionantes. A morte tragou a fama fugaz dos faraós.
Em 1922, pesquisadores ingleses descobriram a pequena pirâmide subterrânea, dedicada a Tutankamon, o faraó que morreu aos 19 anos de idade. Encontrada ainda intacta, a pirâmide mostrou exuberância de riqueza. A sala onde estava o sarcófago tinha três camadas sucessivas de paredes, todas de ouro puro, até a parede mais próxima que guardava o sarcófago, também ele de ouro fino. Se assim era a sala do jovem Tutankamon, como não seriam as salas dos Faraós famosos?
Não sobrou nada. Nem sequer as múmias.
Chegando em Jerusalém, fui ver a igreja que guarda o túmulo de Cristo. Pequeno, simples, despretensioso, cumpriu bem sua finalidade. Alugado, hospedou provisoriamente seu inquilino por três dias. Permanece vazio até hoje, testemunha incômoda e irrefutável. Ele não diz tudo. Mas garante que seu inquilino já não se encontra lá.
Não é o tamanho do túmulo que garante nosso destino. Jesus fez questão de nos avisar: ele foi à frente, nos preparar um outro lugar, “onde os ladrões não roubam, nem as traças corroem”.