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Gosto de ver o programa “A Quadratura do Círculo” de Carlos Andrade, que tem como intervenientes: Pacheco Pereira (PSD), António Costa (PS) e Lobo Xavier (CDS). São pessoas que discutem com elevação, independentemente das emoções sociais e políticas que lhes perpassam a alma. Em senso lato, estas emoções não atrapalham a lógica de raciocínios escorreitos, não raramente cartesianos, muito embora possam estar condimentados por laivos de picardia volátil e por intromissões veladas do moderador, nem sempre aquiescente. Aliás, o programa destina-se, creio eu, a um universo multi-variado, razão pela qual se justifica o uso de linguagens despidas de adorno oratório ou de prosa vaidosa, muito embora Pacheco Pereira resvale, ocasionalmente, para terrenos de matriz filosófica.
Num dos últimos programas, o militante do PSD referiu-se à crise económico-financeira de Portugal, como tendo causas endógenas e exógenas, razão para um dissimulado sorriso de António Costa, que a câmara não deixou escapar. Trata-se de um pormenor que, no entanto, esclarece o que se disse e o que não se disse na campanha eleitoral, atitude corroborada pela maioria dos “média” que tingiram as respectivas participações com meias verdades e meias pantominas, aparentemente norteadas contra o ex Primeiro-Ministro. Aliás, há muito que Pacheco Pereira vinha dizendo que a solução da crise passava mais pelo afastamento de Sócrates do que pelo próprio partido socialista.
Afinal de contas, eliminado que foi o ex Primeiro-Ministro e o PS, começa a verificar-se que a crise económico-financeira portuguesa não estava tão dependente de Sócrates como se previra, nem tão-pouco ligada a seus seguidores, sejam eles Platão, Aristóteles, Tomistas ou Agostinianos. A crise está ligada à postura depressiva das gentes lusas, que imerge da glória histórica e dá origem a uma escassez de identidade onde pulula o laxismo, a lassitude, a falta de ambição, a sobranceria, a jactância, a corrupção e a falta de esperança, tudo isto e tudo aquilo subordinado à ditadura dos mercados financeiros e a erros do neoliberalismo. Não é necessário meandrar no tempo para verificar que os juros da dívida portuguesa continuam a aumentar, independentemente dos resultados das eleições legislativas, mesmo depois de o novo governo (PSD/CDS) ter estado de corpo e alma nas reuniões de Bruxelas. E os próximos tempos vão continuar a afirmar esta inexorável verdade, mesmo que o leitor queira ver, neste artigo, resquícios do episódio de “O Velho do Restelo”. Quem me dera que assim fosse! Infelizmente, o Darwinismo Social saltou por cima da doutrina de Malthus e transformou os portugueses em presas fáceis.
Querer o oito e o oitenta é típico da nossa cultura. No começo das crises, a indiferença é a postura nacional. Com o despertar das consciências, as populações iniciam um ciclo de conjecturas, enquanto os políticos reagem de modo diferente, consoante estejam no governo ou nas oposições. Na terceira fase, as populações enfronhadas pela caça ao voto, são enroladas por múltiplos interesses. Em nenhuma destas fases, o diagnóstico e a terapia da doença foram tidos como objectivos fidedignos até que o povo, que começou por não querer nada, acaba por exigir demasiado, razão pela qual o futuro é subvertido em utopia.
O mal que nos bate à porta vai prolongar-se e o futuro da União Europeia e do euro são incógnitas insertas numa reacção em cadeia. Há quem afirme que os bancos alemães são detentores da maior parte da dívida grega. Se assim é, começo a entender melhor as preocupações de Angela Merkel.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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