Betto Santos 17 de julho de 2011
Como explicar para uma pessoa o valor da vida? Se esta ao dormir, diga-se uma tarefa muito árdua, imerge seus pensamentos, quase sempre acompanhado de suas lágrimas. Reflexões de uma vida passam como um filme, lentamente, como se fosse preciso a cada noite reviver toda aquela dor. É uma dor consciente, porém não menos dor. Não é proposital… Tendo em vista que o seu maior sonho é nunca mais se lembrar do que viveu. É um tormento que sua racionalidade insiste em lhe castigar. Arrependimentos, pensamentos “por que fiz (foi) desse jeito” persistem como uma forte enxaqueca. E após toda essa retrospectiva só se esvai quando os olhos pesados e encharcados sucumbem ao cansaço e ao sono.
Ao despertar, no limite entre a ciência da realidade e os sonhos, se convergem suas lembranças e pesadelos. É duro ter que sair da cama e encarar por mais um longo dia seus fantasmas. Cada segundo imóvel, olhando fixamente para o teto, parece um alento. Todas as forças de seu pensamento se detêm em não pensar em nada. Como se o medo estivesse ao lado, e a solução mais apropriada fosse olhar para o lado oposto.
Quase que de forma mecânica começa o ritual: O desjejum, com algo sem gosto, não pela baixa qualidade do alimento, mais o receio que o sentir do sabor lhe aponte para algum passado; o banho, este quase sempre com o desejo de levar um pouco de si mesmo pelo ralo, não raro é pensar no que vai dizer quando envelhecer e perceber que aqueles foram os melhores momentos que se viveu. Então se veste, arruma o cabelo, senta-se e respira fundo, o dia vai começar. Com um grande esforço, coloca o seu sorriso habitual no rosto, apesar dos olhos permanecerem indefinidamente tristes, que assim ninguém pode notar sua melancolia. Esta é só sua! Isso faz mal ao que o rodeiam. E com emoções tão intensas apenas para si, não é de se estranhar o sentimento de solidão ao redor de uma pequena multidão.
Quando uma voz dissonante o questiona, já que o sorriso nem sempre consegue permanecer firme e termina por acompanhar o comportamento dos olhos, o que dizer? Como se explicar? Se nem mesmo se consegue compreender o que acontece consigo mesmo. Você então se sente correndo contra a ordem natural das coisas. “Mude! Esqueça essas coisas! Você não entendeu?! Seja superficial.” Tão simples: ‘Sorria’. ‘Boa tarde’. ‘Como vai?’ ‘Bem, muito obrigado’. Deixe quem você é de verdade para o seu travesseiro, e tenha um bom dia.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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