Ina Melo 26 de junho de 2011
          Noite fria de junho. A pequena cidade serrana enfeitada de bandeirolas coloridas, com fogueiras em quase todas as ruas, preparava-se para uma festa simples, onde felicidade e alegria nunca faltavam. Era o São João festa popular do Nordeste Brasileiro.
          No pátio da feira, no Arraial do Cel. Bento, Prefeito da cidade estava armada a maior de todas as fogueiras. Barracas enfeitadas de balões vendiam fogos de artifício, roupas, chapéus de palha, milho cozido e assado, canjica, pamonha e variados tipos de bolos. Os moradores se reuniam para festejar o santo padroeiro da cidade.
          Aline, com vestido de bolas enfeitado de renda e laços de fita, estava radiante. Cabelos e olhos negros como a graúna. Pele branca e sedosa irradiava juventude. Desde menina adorava dançar e agora, moça feita, todos os rapazes da cidade a queriam como par.
          Naquela noite, as moças casadoiras estavam em alvoroço: Aportara na cidade, para conhecer os festejos juninos um doutor da capital, amigo de Bentinho filho do Prefeito. Tipo franzino, pele clara, bem vestido e maneiroso. O avesso dos jovens do lugarejo: Homens fortes, queimados de sol, acostumados a domar cavalos bravios. Logo o apelidaram de Paulo “almofadinha”.
          Bentinho, como bom anfitrião avisou para as meninas que não recusassem o convite do amigo para dançar. Elas riam e diziam: Oxente! Esse “alfenim” sabe lá dançar!
          Aline, amiga de Bentinho disse: Pode mandar ele me convidar que aceito. Foi assim que nos braços do “almofadinha” ela vivenciou a primeira paixão da sua vida.
          O fogo do amor, igual à fogueira foi crescendo e transformou-se em labaredas crepitantes. Os sonhos subiam aos céus como os balões. Um ano depois, numa noite igual aquela, casou de verdade, com padre, fogos, sanfonas e muita alegria.
          O amor durou vários São Joãos. Aline e Paulo foram morar na cidade grande. Tal qual a fogueira, aos poucos as cinzas apagaram aquele braseiro de paixões. Até que um dia por falta de alimento ou renovação, tudo acabou.
          Hoje, Aline espera ao ver as chamar ardentes das fogueiras, que uma nova paixão venha ao seu encontro.

 

(Recife,Junho/03)
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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