Paula Barros 5 de junho de 2011
Lembro, nem sei porque lembrei, do dia que lhe convidei para dormir na praça . Você topou. Sorrio, nunca sei quem tinha menos juízo e mais ideias estranhas. Planejávamos tudo. A praça, o banco que caberia nós dois, a emoção de fazer amor numa praça. Quando a lua estivesse cheia seria ideal. Mesmo que o meu maior desejo fosse dormir numa praça, fazer amor seria um complemento, um gostoso complemento. Fiquei super contente porque você topou. Eu e você combinávamos em algumas loucuras. Você só não topou uma, e ficou me devendo outra. Um dia conto.
Mas para esse meu sonho ser completo, tinha que ter o cobertor cinza. Daqueles que já vi mendigos dormindo. Começamos a ir namorar nas praças da cidade, para observar os detalhes. Tipos de bancos, se o local era deserto, se eram arborizadas, se era movimentada. Algumas já tinham os que dormiam lá diariamente. Dividiríamos a mesma praça com os que já dormiam lá? Talvez fosse mais seguro. E se fosse na praça perto do Quartel da Polícia? Essa, gostávamos do banco, e perto do Quartel estaríamos supostamente mais protegidos.
Nem cheguei a comprar o cobertor. Ouvimos no noticiário a morte de um morador de rua que foi incendiado. E vieram outros. E mais outros. A maldade humana nos assustava. E roubava o meu sonho. Hoje você não está comigo para fazermos loucuras. E loucos que sonham sonhos não são fáceis de se encontrar.
Também não divido meus sonhos com todo mundo. A de se ter um olhar especial, um toque que abre portas. Para libertar a minha loucura,tem que ter habilidade. Tem que ter uma dose de loucura, mas tem que ter cumplicidade.
Obs: Imagem enviada pela autora.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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