O primeiro problema liga-se à competência acerca do legislador que deve tomar a iniciativa. Se o federal, através das duas casas legislativas, se da Assembléia Legislativa, ou se da Câmara Municipal. Nesse passo, é de se verificar se a matéria é, assim, de ordem federal, a repercutir em toda a federação. Ou se, supletivamente, pode ser também da alçada do legislativo estadual. Ou se é meramente municipal, típica e específica de cada centro urbano.
Não me arrisco a dar palpite. A minha legitimidade se limita a expor o problema e a pedir soluções, ainda que não sejam tão imediatas. Mas que venham em forma de uma norma, com eficácia plena, para que se possa ser invocada quando o fato ocorrer.
Para não alongar a curiosidade, proclamo que me refiro ao uso, por parte de muitas mulheres, de enormes bolsas, que mais se assemelham com verdadeiros sacos. Penduram a bolsa em um ombro e ficam, em ambientes fechados, a circular para lá e para cá, ocupando um espaço maior do que o do próprio corpo. O resultado é que, quem, por perto está, dança. Ou melhor, recebe o impacto da pancada que a bolsa provoca. É algo profundamente desagradável.
Outro dia mesmo, estava num laboratório, aguardando minha vez de ser atendido, sentado, bem em frente às digitadoras, para não perder a chamada do número de minha senha, quando fui despertado pela pancada sofrida, e, logo, no rosto. Claro que não carregava a força de um murro. Mas, absorvida a dor, o susto foi grande. Uma senhora, com o seu saco pendurado, digo, sua bolsa, se movimentando e nocauteando quem estava por perto. Na fila do banco, a mesma cena. Em aeronave, no corredor, a pancada, sem dó, é, também, na cara.
Fico, assim, na dúvida, acerca de quem deve tomar providências legislativas, e, também, acerca da melhor definição para a bolsa, instrumento do delito. Se é uma bolsa-saco ou um saco-bolsa. Nunca me atrevi a pedir a portadora de tal estrupício para ver o que carrega, mas, acredito, presumo, acho, penso, que muita mercadoria deve estar ali dentro, para exigir da portadora uma vasilha tão grande a fim de comportar tudo que a bolsa-saco ou o saco-bolsa transporta.
Uma vez, num jantar, muitas senhoras colocando a bolsa na mesa, me fez puxar uma cadeira para deixar todas juntas. Com o consentimento geral, eu mesmo me encarreguei de pegar uma por uma, a fim de acomodá-las. Uma estava extremamente pesada. Só podia ser um revólver, presumi. Depois, meditando melhor, cheguei a conclusão de se cuidar de uma metralhadora portátil, tal o peso. Não me arrisquei a perguntar. Podia ser.
Percebo, por fim, um problema: as fábricas podem acionar o Estado no sentido de ferir o princípio da liberdade de fabricar a bolsa do tamanho que achar conveniente. Inclusive, a bolsa-família, que não sei qual é a dimensão. E aí poderá advir uma série de querelas que se arrastarão por décadas. Bom. Melhor recuar. Dar o dito por não dito. Não oferecer sugestões. Não pleitear legislação acerca da bolsa-saco. Façam de conta que não falei nada. Encerro.
Publicado no Diário de Pernambuco
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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