Um pequeno pássaro construiu, em um galho de uma árvore, um ninho e colocou seus ovos. Depois de alguns dias, o pequeno pássaro percebeu, para seu grande desespero, a presença de uma cobra que, lentamente, se dirigia em direção ao ninho. Voando aos ziguezagues, sem saber o que fazer, o pequeno pássaro já via a vida de seus futuros filhotes praticamente destruída. Um macaco percebendo a situação disse ao passarinho: “Não se preocupe, eu vou afastar a cobra atirando pedras!” O pássaro, então, respondeu: “Não faça isso, você pode, com as pedras, atingir meus ovos e assim destruí-los!” Um elefante estando por perto viu o desespero do pequeno pássaro e tentou prestar alguma ajuda: “Eu vou balançar a árvore com minha trompa e fazer a cobra cair.” O passarinho disse imediatamente: “Não faça isso, ao balançar a árvore meus ovos podem cair no chão!” Foi então que o pequeno pássaro teve uma grande idéia. Se os grandes da floresta não podem me ajudar os menores com certeza poderão. O pássaro voou velozmente para um formigueiro e explicou a situação às formigas. Imediatamente a árvore encheu-se de formigas que se amontoaram por cima da cobra. Esta entrou em desespero, caiu ao chão, se chacoalhando e cheia de picadas fugiu para bem longe.
Em um sentido amplo, política significa todo jogo de influências dentro das relações humanas. Ao vivermos em sociedade somos influenciados por determinadas pessoas e exercemos influências sobre elas. Este jogo é inevitável e se desenvolve, na maioria das vezes, de forma inconsciente. Foi neste sentido que Aristóteles definiu o homem como um ser essencialmente político. O simples fato de existir em um determinado grupo provoca a transformação do mesmo, pois minha presença, independentemente de minha vontade, o influencia de alguma forma. Em um segundo nível, política constitui-se no exercício “consciente” deste jogo de influências. Neste nível, procuramos alcançar determinados objetivos e para isso traçamos estratégias procurando convencer nossos semelhantes da importância do que desejamos. Esta forma de política pode ser exercida em nosso microcosmo, como família, grupo de amigos ou bairro, como também em nosso macrocosmo, ou seja, em nossa sociedade. Dependendo da forma como influenciamos no macrocosmo, possuímos um determinado regime político. Em nosso caso, podemos participar de forma livre dos jogos de influência da nossa sociedade, o que significa que vivemos em uma Democracia. Segundo a definição clássica de Abraham Lincoln, “democracia é o governo do povo, com o povo e para o povo”. Democracia é, primeiramente, o poder “do povo” de se auto-governar (of the people). Mas, quem é na verdade o povo? Em uma democracia o povo constitui-se na maioria. As decisões da maioria devem determinar os rumos da organização de uma sociedade e as minorias são obrigadas a se adequar a estas. Democracia, porém, não significa uma ditadura da maioria. Portanto, é necessário que esta tenha tolerância, permitindo assim que as minorias exerçam o direito de divulgar suas idéias e talvez algum dia terem a chance de se tornarem maioria. Este aspecto nos leva à outra dimensão da democracia: o poder em uma democracia é exercido para o povo (for the people), ou seja, para o Bem Comum de todos. Os representantes do povo devem criar condições para que todo ser humano possa se desenvolver como pessoa, independentemente de suas crenças, ideologias, sexo, religião ou opções políticas. Isso só é concretizado a partir do momento que vivenciamos o último aspecto da democracia: a democracia é exercida pelo povo (by the people). Exercer este poder não significa simplesmente participar de uma eleição, mas a partir dela, acompanhar os trabalhos de seus representantes. Tanto a maioria como as minorias devem procurar saber “o que” e “como” os políticos realizam seus serviços tanto no Executivo como no Legislativo. É necessário se ter a consciência de que um político eleito não é um vencedor que merece honras, mas alguém que acabou de se tornar um empregado do povo e de assumir uma grande responsabilidade. O povo deve ter a consciência de que as realizações destes homens e mulheres não serão “presentes” ou “concessões” à população, mas sim obrigações que possuem diante delas. Em nosso país, os políticos são muito bem pagos para trabalhar com eficiência por uma sociedade que deve, com urgência, tornar-se cada vez mais justa e humana, uma sociedade que tenha uma saúde preventiva, um ótimo sistema educacional, professores bem remunerados, policiais bem pagos e bem equipados, ruas limpas e sem buracos, praças que possam ser freqüentadas sem medo. Infelizmente, estamos ainda um pouco longe para que a nossa democracia se torne um governo do povo, com o povo e para o povo. O exercício da democracia é, porém, uma questão de prática. Para esta é necessário que compreendamos que o jogo de influências, ou seja, a política, começa a partir das eleições. Em outras palavras, todo ano é ano político. Somente com mais participação, movimentação popular, incansáveis debates sobre nossa realidade, fiscalização e controle de nossos políticos atingiremos uma consciência verdadeiramente democrática e uma sociedade que permita o desenvolvimento da vida de todos.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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